Evangelho segundo São João

1 Prólogo. 1No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. 2No princípio ela estava com Deus. 3Todas as coisas foram feitas por meio dela e sem ela nada se fez do que foi feito. 4Nela estava a vida, e a vida era a luz dos seres humanos. 5A luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam. 6Houve um homem enviado por Deus, de nome João. 7Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9Era esta a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todas as pessoas. 10Ela estava no mundo, e por ela o mundo foi feito, mas o mundo não a conheceu. 11Veio para o que era seu, mas os seus não a receberam. 12Mas a todos que a receberam, aos que creem em seu nome, deu o poder de se tornarem filhos de Deus; 13estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. 14E a Palavra se fez carne e habitou entre nós; vimos a sua glória, a glória de Filho único do Pai, cheio de graça e verdade. 15João dá testemunho dele e clama: “Este é aquele de quem vos disse: O que vem depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes de mim”. 16Pois da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça. 17Porque a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. 18Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único de Deus, que está junto ao Pai, foi quem no-lo deu a conhecer.

I. TESTEMUNHOS E SINAIS DE QUE JESUS FOI ENVIADO AO MUNDO PELO PAI

O testemunho de João. 19Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntar: “Quem és tu?” 20Ele confessou e não negou: “Eu não sou o Cristo”. 21E lhe perguntaram: “Mas então quem és? És Elias?” Ele respondeu: “Não sou”. “És o Profeta?” E ele respondeu: “Não”. 22Disseram-lhe então: “Quem és afinal, para darmos resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?” 23Ele disse: “Eu sou a voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor, segundo disse o profeta Isaías”. 24Os enviados eram da parte dos fariseus. 25Perguntaram-lhe ainda: “Se não és o Cristo, nem Elias, nem o Profeta, por que então batizas?” 26João respondeu-lhes: “Eu batizo com água, mas no meio de vós está alguém que vós não conheceis. 27É ele que vem depois de mim, de quem não sou digno de desatar a correia das sandálias”. 28Isto aconteceu em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João batizava.

Jesus, o Cordeiro de Deus. 29No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se e disse: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.30É este de quem eu disse: depois de mim vem alguém que passou adiante de mim, porque existia antes de mim. 31Eu não o conhecia, mas se vim batizar com água, é para que ele se torne conhecido em Israel”. 32E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito descer do céu em forma de pomba e permanecer sobre ele. 33Eu não o conhecia, mas quem me enviou para batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires descer o Espírito e permanecer, esse é que batiza no Espírito Santo’. 34Eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus”.

Os primeiros discípulos. 35No dia seguinte, João estava lá de novo com dois dos seus discípulos. 36Fixou o olhar em Jesus que passava, e disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. 37Os dois discípulos ouviram isto e seguiram Jesus. 38Então Jesus voltou-se para eles e, vendo que o seguiam, perguntou-lhes: “A quem procurais?” Responderam-lhe:  “Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?” 39Ele disse: “Vinde e vede”. Eles foram, viram onde morava e ficaram com ele aquele dia. Eram quase quatro horas da tarde. 40André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. 41Foi logo encontrar seu irmão, Simão, e lhe disse: “Encontramos o Messias” – que quer dizer Cristo. 42Ele o levou até Jesus. Jesus fixou o olhar nele e disse: “Tu és Simão filho de João. Serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro”. 43No dia seguinte Jesus decidiu ir para a Galileia. Encontrou Filipe e disse: “Segue-me”. 44Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. 45Filipe encontrou Natanael e disse: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus filho de José, de Nazaré”. 46Natanael perguntou: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” Filipe respondeu: “Vem e vê”. 47Jesus viu Natanael que vinha e comentou: “Aqui está um verdadeiro israelita, em quem não há maldade”. 48Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes de Filipe te chamar, eu te vi quando estavas debaixo da figueira”. 49Natanael disse: “Rabi, tu és o Filho de Deus, és o rei de Israel”. 50Jesus lhe respondeu: “Tu crês porque eu disse que te vi debaixo da figueira? Verás coisas maiores do que esta”. 51E acrescentou: “Na verdade eu vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”.

2 O começo dos sinais em Caná. 1No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava presente. 2Jesus e os discípulos também foram convidados para esse casamento. 3Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4Jesus respondeu: “Mulher, o que temos nós a ver com isso? Ainda não chegou a minha hora”. 5Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei tudo o que ele vos disser”. 6Havia ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus. Em cada uma cabiam duas ou três medidas. 7Jesus disse: “Enchei de água as talhas”. Eles encheram-nas até a borda. 8Então Jesus disse: “Tirai agora um pouco e levai ao organizador da festa”. Eles levaram. 9Logo que o organizador da festa provou da água transformada em vinho – ele não sabia de onde vinha, embora o soubessem os serventes que tinham tirado a água – chamou o noivo 10e lhe disse: “Todos servem primeiro o vinho bom e quando já estão embriagados servem o de qualidade inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora”. 11Este foi o início dos sinais de Jesus, em Caná da Galileia. Ele manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele. 12Depois disso, ele desceu a Cafarnaum com a mãe, os irmãos e os discípulos. Ali ficaram apenas alguns dias.

A purificação do Templo. 13Estava próxima a Páscoa dos judeus. Jesus subiu a Jerusalém 14e encontrou no Templo vendedores de bois, de ovelhas e pombas e os cambistas sentados. 15Fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, com as ovelhas e os bois; esparramou no chão o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas. 16Aos que vendiam as pombas, disse: “Tirai daqui tudo isso e não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio”. 17Lembraram-se os discípulos de que está escrito: O zelo de tua casa me consome. 18Os judeus tomaram a palavra e lhe perguntaram: “Que sinal nos dás para fazeres isto?” 19Jesus respondeu: “Destruí este Santuário e em três dias eu o levantarei”. 20Então os judeus disseram: “Quarenta e seis anos levou a construção deste Santuário e tu vais levantá-lo em três dias?” 21Mas ele falava do santuário de seu corpo. 22Quando ressuscitou dos mortos, os discípulos se lembraram do que ele havia dito e creram na Escritura e na palavra de Jesus.

A fé insuficiente. 23Enquanto estava em Jerusalém para a festa da Páscoa, muitos creram em seu nome ao verem os sinais que fazia. 24Mas Jesus não se fiava neles porque os conhecia a todos. 25Não tinha necessidade que o informassem sobre alguma pessoa, pois sabia o que ela pensava.

3 Jesus e Nicodemos. 1Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um judeu importante. 2De noite ele foi falar com Jesus e lhe disse: “Rabi, sabemos que vieste como Mestre da parte de Deus, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele”. 3Jesus respondeu: “Na verdade eu te digo: quem não nascer do alto, não pode ver o reino de Deus”. 4Nicodemos perguntou-lhe: “Como pode nascer alguém que já é velho? Acaso pode entrar de novo no ventre da mãe e nascer?” 5Jesus respondeu: “Na verdade eu te digo: quem não nascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus. 6O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito. 7Não te admires de eu ter dito: deveis nascer do alto. 😯 vento sopra para onde bem entende; tu ouves o barulho, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo aquele que nasceu do Espírito”. 9Nicodemos perguntou-lhe: “Como pode acontecer isso?” 10Jesus respondeu: “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? 11Na verdade eu te digo: falamos do que sabemos e testemunhamos o que vimos, mas não aceitais o nosso testemunho. 12Se não acreditais quando vos falo de coisas terrenas, como haveis de acreditar se vos falar de coisas celestes? 13Ninguém subiu ao céu senão quem desceu do céu: o Filho do homem. 14Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é preciso que o Filho do homem seja levantado, 15a fim de que todo o que nele crer tenha a vida eterna”. 16Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. 17Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus. 19E o julgamento consiste no seguinte: a luz veio ao mundo e as pessoas amaram mais a escuridão do que a luz, porque suas obras eram más. 20Pois todo aquele que faz o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas obras não sejam desmascaradas. 21Mas quem pratica a verdade vem à luz, para que as obras apareçam, pois são feitas em Deus.

Último testemunho de João. 22Em seguida Jesus foi com os discípulos para a região da Judeia. Ali ficou com eles e batizava. 23João também batizava em Ainão, perto de Salim, onde havia muita água. As pessoas chegavam e eram batizadas, 24pois João ainda não tinha sido lançado no cárcere. 25Originou-se então uma discussão entre os discípulos de João e um judeu sobre a purificação. 26Eles foram ter com João e lhe disseram: “Mestre, aquele que estava contigo do outro lado do Jordão, de quem deste testemunho, está agora batizando, e todos vão para ele”. 27João respondeu: “Ninguém pode receber nada se não lhe for dado do céu. 28Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: eu não sou o Cristo, mas o enviado na frente dele. 29Quem tem a noiva é o noivo. O amigo do noivo, que está presente e o ouve, muito se alegra com a voz do noivo. Pois é assim que minha alegria ficou completa. 30É preciso que ele cresça e eu diminua”.

A origem divina de Jesus. 31Quem vem do alto está acima de todos. Quem procede da terra é terreno e fala daquilo que é terreno. Quem vem do céu está acima de todos. 32Dá testemunho do que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. 33Quem aceita o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro. 34Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois Deus lhe deu o Espírito sem medida. 35O Pai ama o Filho e lhe pôs todas as coisas na mão. 36Quem crê no Filho tem a vida eterna. Aquele, porém, que se recusa a crer no Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.

4 Jesus e a samaritana. 1Os fariseus ouviram dizer que Jesus fazia mais discípulos e batizava mais do que João – 2embora não fosse Jesus que batizasse, e sim os discípulos. 3Ao saber disso, ele deixou a Judeia e voltou para a Galileia. 4Ele tinha de passar pela Samaria. 5Chegou assim a uma cidade da Samaria chamada Sicar, próxima das terras que Jacó havia dado ao seu filho José. 6Ali estava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se à beira do poço. Era quase meio-dia. 7Uma mulher da Samaria veio tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”. 8Os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. 9A mulher samaritana respondeu-lhe: “Como é que tu, um judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana?” Pois os judeus não se dão com os samaritanos. 10Em resposta Jesus lhe disse: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz ‘dá-me de beber’, serias tu que lhe pedirias, e ele te daria água viva”. 11A mulher disse: “Senhor, não tens com que tirar água e o poço é fundo, donde tens pois essa água viva? 12Por acaso és maior que nosso pai Jacó que nos deu o poço do qual ele bebeu, junto com os filhos e os rebanhos?” 13Jesus respondeu: “Quem bebe dessa água tornará a ter sede; 14mas quem beber da água que eu lhe der jamais terá sede. A água que eu lhe der será nele uma fonte que jorra para a vida eterna”. 15A mulher pediu: “Senhor, dá-me dessa água para que eu não sinta mais sede nem precise vir aqui buscar água”. 16Jesus lhe disse: “Vai chamar teu marido e volta aqui”. 17A mulher respondeu: “Eu não tenho marido”. Jesus disse: “Respondeste bem: ‘não tenho marido’. 18De fato, tiveste cinco e aquele que agora tens não é teu marido; nisto disseste a verdade”. 19“Senhor – disse a mulher – vejo que és um profeta. 20Nossos pais adoraram a Deus neste monte e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar”. 21Jesus lhe disse: “Mulher, acredita em mim, vem a hora em que nem neste monte e nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. 23Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade; estes são os adoradores que o Pai deseja. 24Deus é espírito, e quem o adora deve adorá-lo em espírito e verdade”. 25A mulher disse a Jesus: “Eu sei que o Messias, que se chama Cristo, está para vir. Quando vier, ele nos fará saber todas as coisas”. 26Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que falo contigo”. 27Nisso chegaram os discípulos e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher. Mas ninguém perguntou o que ele queria ou o que estava falando com ela. 28A mulher deixou o cântaro, foi à cidade e disse a todos: 29“Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” 30Eles saíram da cidade e foram até onde estava Jesus. 31Nesse meio tempo, os discípulos insistiam com ele: “Mestre, come”. 32Mas Jesus lhes disse: “Tenho uma comida que vós não conheceis”. 33Os discípulos perguntavam uns aos outros: “Será que alguém lhe trouxe alguma coisa para comer?” 34Jesus disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra. 35Não dizeis vós que daqui a quatro meses chegará a colheita? Pois bem, eu vos digo: Levantai os olhos e olhai os campos já brancos, prontos para a colheita. 36Quem faz a colheita recebe o salário e recolhe o fruto para a vida eterna, a fim de se alegrarem juntos o semeador e o que colhe. 37Pois nisto é verdadeiro o provérbio: Um é o que semeia, outro, o que colhe. 38Eu vos enviei a colher o que não trabalhastes. Outros trabalharam e vós aproveitastes o trabalho deles”. 39Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram em Jesus pelo fato de a mulher haver dito: “Ele me disse tudo o que eu fiz”. 40Assim, quando os samaritanos foram ter com Jesus, pediram que ficasse com eles. E Jesus ficou ali dois dias. 41Muitos outros creram quando o ouviram falar. 42E diziam à mulher: “Já não cremos apenas por causa de tua conversa. Nós mesmos ouvimos e reconhecemos que este é realmente o Salvador do mundo”.

A cura do filho do oficial. 43Passados os dois dias, Jesus partiu para a Galileia. 44O próprio Jesus havia afirmado que nenhum profeta é honrado em sua terra. 45Ao chegar à Galileia, os galileus o acolheram. Eles tinham visto as maravilhas que Jesus havia feito em Jerusalém durante a festa, pois eles também tinham ido à festa. 46Jesus voltou assim a Caná da Galileia, onde havia transformado água em vinho. Havia ali um funcionário do rei, que tinha um filho doente em Cafarnaum. 47Ouvindo dizer que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi procurá-lo e pediu-lhe que descesse e curasse o filho que estava para morrer. 48Jesus lhe disse: “Se não virdes sinais e prodígios, não acreditareis”. 49O funcionário do rei pediu-lhe: “Senhor, desce antes que meu filho morra”. 50Jesus respondeu-lhe: “Vai, teu filho está passando bem”. O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu. 51Enquanto descia, vieram ao seu encontro os servos, dizendo: “Teu filho está passando bem”. 52Perguntou-lhes então a hora em que se sentira melhor. Responderam-lhe: “Ontem, à uma da tarde, a febre o deixou”. 53O pai reconheceu ter sido esta a hora em que Jesus lhe dissera: “Teu filho está passando bem”. E ele creu com toda sua família. 54Foi este o segundo sinal que Jesus fez, ao voltar da Judeia para a Galileia.

5 A cura do paralítico em Jerusalém. 1Depois disso, celebrava-se uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. 2Existe em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, uma piscina chamada em hebraico Betesda, que tem cinco pórticos. 3Muitos enfermos, cegos, coxos e paralíticos ficavam aí deitados. 5Entre eles, havia um homem que estava doente há trinta e oito anos. 6Jesus o viu deitado e, ao saber que estava doente há muito tempo, disse-lhe: “Queres ficar curado?” 7O doente respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me ponha na piscina quando a água se movimenta. Enquanto estou indo, outro doente desce antes de mim”. 8Jesus lhe disse: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. 9No mesmo instante aquele homem ficou curado, tomou o leito e andou. Aquele dia era um sábado. 10Os judeus começaram a dizer para o homem curado: “Hoje é sábado, não te é permitido carregar o leito”. 11Ele respondeu: “Quem me curou disse: toma o teu leito e anda”. 12Perguntaram-lhe então: “Quem é este homem que te disse: toma o teu leito e anda?” 13Mas o que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado da multidão ali presente. 14Mais tarde, Jesus o encontrou no Templo e lhe disse: “Olha, tu estás curado. Não peques mais, para não te acontecer coisa pior”. 15O homem foi contar aos chefes dos judeus que tinha sido Jesus que o havia curado. 16Então eles começaram a perseguir Jesus por ter feito tal coisa no sábado. 17Mas ele respondeu-lhes: “Meu Pai continua trabalhando até agora e eu também trabalho”. 18Por isso os judeus procuravam com mais empenho ainda tirar-lhe a vida, pois não só abolia o sábado, mas também afirmava que Deus era seu Pai, fazendo-se assim igual a Deus.

Jesus se revela juiz. 19Então Jesus tomou a palavra e lhes disse: “Na verdade eu vos digo: o Filho nada pode fazer por si mesmo. Ele só faz o que vê o Pai fazer. Tudo o que o Pai faz o Filho também faz. 20Porque o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo que ele mesmo faz. E lhe mostrará obras maiores do que esta, de sorte que ficareis admirados. 21Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, assim também o Filho dá a vida aos que quiser. 22O Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o poder de julgar, 23para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho também não honra o Pai que o enviou. 24Na verdade eu vos digo: quem escuta minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é condenado, mas passou da morte para a vida. 25Na verdade eu vos digo: vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. 26Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter a vida em si mesmo. 27E deu-lhe o poder de julgar, porque é o Filho do homem. 28Não vos admireis, porque vem a hora em que todos os que estão mortos ouvirão sua voz. 29Os que praticaram o bem sairão dos túmulos para a ressurreição da vida; os que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados. 30Eu nada posso fazer por mim mesmo. Julgo como ouço, e meu julgamento é justo pois não procuro minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

O testemunho em favor do Filho. 31Se eu desse testemunho de mim mesmo, meu testemunho não seria digno de fé. 32Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que ele dá de mim. 33Vós mandastes perguntar a João, e ele deu testemunho da verdade. 34Eu não invoco testemunho humano, mas digo-vos isto para que sejais salvos. 35João era uma lâmpada que estava acesa e iluminava, e vós quisestes por um instante alegrar-vos com sua luz. 36Eu, porém, tenho um testemunho maior do que o de João: as obras que o Pai me deu para realizar, estas obras que eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou. 37O Pai que me enviou também dá testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto, 38nem tendes a sua palavra em vós, pois não credes naquele que ele enviou. 39Pesquisais as Escrituras porque julgais encontrar nelas a vida eterna – e são elas mesmas que dão testemunho de mim –, 40mas não quereis vir a mim para terdes a vida. 41Não aceito elogio das pessoas. 42Aliás, eu vos conheço e sei que não tendes o amor de Deus. 43Eu vim em nome do meu Pai e não me recebeis. Se outro vier em seu próprio nome, a esse recebereis. 44Como podeis crer, vós que aceitais elogios uns dos outros e não buscais a glória que provém do único Deus? 45Não penseis que vou acusar-vos perante o Pai. Quem vos acusa é Moisés, em quem depositastes vossa esperança. 46Se acreditásseis em Moisés, certamente acreditaríeis também em mim, porque Moisés escreveu a meu respeito. 47Se porém não acreditais em seus escritos, como acreditareis em minhas palavras?”

6 Jesus alimenta cinco mil. 1Depois, Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia, isto é, de Tiberíades. 2Era acompanhado de grande multidão, pois viam os sinais que fazia com os enfermos. 3Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. 5Jesus levantou os olhos e, ao ver a grande multidão que vinha ter com ele, disse a Filipe: “Onde compraremos pão para dar-lhes de comer?” 6Dizia isto para experimentá-lo, pois bem sabia o que ia fazer. 7Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata seriam suficientes para cada um receber um pedacinho de pão”. 8Um dos discípulos chamado André, irmão de Simão Pedro, disse: 9“Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” 10Disse Jesus: “Fazei todos sentar-se no chão”. Havia naquele lugar muita grama. Sentaram-se, pois, os homens em número de uns cinco mil. 11Então Jesus tomou os pães, deu graças e deu-os aos que estavam sentados. Fez o mesmo com os peixes, dando-lhes o quanto queriam. 12Depois de saciados, disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para não se perderem”. 13Eles os recolheram e encheram doze cestos de pedaços que sobraram dos cinco pães de cevada. 14Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aquela gente dizia: “Na verdade, este é o profeta que há de vir ao mundo”. 15Percebendo Jesus que pretendiam levá-lo à força para fazê-lo rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

Jesus caminha sobre o mar. 16Chegada a tarde, os discípulos desceram até o mar. 17Entraram num barco e dirigiram-se para o outro lado, rumo a Cafarnaum. Já escurecia e Jesus ainda não tinha se juntado a eles. 18 O mar estava agitado, por causa do vento forte que soprava. 19Tinham navegado uns cinco ou seis quilômetros, quando viram Jesus caminhando sobre o mar e aproximar-se do barco. Eles ficaram com medo, 20mas Jesus lhes disse: “Sou eu, não tenhais medo!” 21Queriam recebê-lo no barco, mas imediatamente o barco encostou na margem à qual se dirigiam.

Jesus, o pão da vida. 22No dia seguinte, a multidão que ficara na outra margem notou que ali havia um só barco, e que Jesus não tinha embarcado com os discípulos, mas que estes haviam partido sozinhos. 23Outros barcos tinham chegado de Tiberíades, perto do lugar onde haviam comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão percebeu que nem Jesus, nem os discípulos estavam ali, entraram nos barcos e foram a Cafarnaum, à procura de Jesus. 25Ao encontrar Jesus na outra margem, perguntaram: “Mestre, quando chegaste aqui?” 26Jesus respondeu: “Na verdade eu vos digo: vós me procurais, não porque vistes os sinais, mas porque comestes o pão e ficastes saciados. 27Esforçai-vos, não pelo alimento que se estraga, e sim pelo alimento que permanece até à vida eterna. É este o alimento que o Filho do homem vos dará, porque Deus Pai o marcou com seu selo”. 28Então lhe perguntaram: “O que devemos fazer para trabalhar nas obras de Deus?” 29Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”. 30Então lhe perguntaram: “Mas tu, que sinal fazes para que vejamos e acreditemos em ti? Qual é a tua obra? 31Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes para comer pão do céu”. 32Jesus lhes respondeu: “Na verdade eu vos digo: não foi Moisés que vos deu o pão do céu. Meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do céu, 33pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”. 34Disseram-lhe então: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. 35Jesus respondeu: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim já não terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede. 36Mas eu já vos disse: vós me vedes e não credes. 37Tudo o que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o jogarei fora. 38Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou. 39E esta é a vontade de quem me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que me deu, mas que o ressuscite no último dia. 40A vontade do Pai é que todo aquele que vê o Filho e acredita nele tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”. 41Os judeus começaram a murmurar contra Jesus porque dissera: “Eu sou o pão que desceu do céu”. 42E diziam: “Não é ele Jesus, o filho de José? Nós conhecemos seu pai e sua mãe. Como então pode dizer: desci do céu?” 43Jesus respondeu: “Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: Todos serão ensinados por Deus. Quem ouve o Pai e é instruído por ele vem a mim. 46Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que está em Deus é que viu o Pai. 47Na verdade eu vos digo: quem crê tem a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50Este é o pão que desce do céu, para que não morra quem dele comer. 51Eu sou o pão vivo descido do céu. Se alguém comer deste pão viverá para sempre. E o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo”. 52Os judeus começaram a discutir entre si: “Como pode esse homem nos dar de comer sua carne?” 53Jesus lhes disse: “Na verdade eu vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. 55Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. 56Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. 57Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim. 58Este é o pão descido do céu. Não é como o pão que vossos pais comeram e, ainda assim, morreram. Quem come deste pão viverá eternamente”. 59Este foi o ensinamento de Jesus numa sinagoga em Cafarnaum.

Reação às palavras de Jesus. 60Depois de o ouvirem, muitos de seus discípulos disseram: “Estas palavras são duras! Quem pode escutá-las?” 61Percebendo que os discípulos estavam murmurando por causa disso, Jesus lhes disse: “Isto vos escandaliza? 62E se vísseis o Filho do homem subir para onde estava antes?… 63O espírito é que dá a vida. A carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida. 64Mas entre vós há alguns que não creem”. De fato, Jesus sabia desde o princípio quais eram os que não tinham fé e quem haveria de entregá-lo. 65E prosseguiu: “Por isso eu vos disse: ninguém pode vir a mim se isso não lhe for concedido pelo Pai”. 66Desde então, muitos dos discípulos se retiraram e já não o seguiam. 67Jesus perguntou então aos Doze: “Também vós quereis ir embora?” 68Simão Pedro respondeu: “Senhor, para quem iríamos? Tu tens palavras de vida eterna. 69Nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus”. 70Disse-lhes Jesus: “Não fui eu que vos escolhi, os Doze? Mas um de vós é um diabo”. 71Jesus estava falando de Judas, filho de Simão Iscariotes, porque ele, um dos Doze, haveria de entregá-lo.

7 Incredulidade dos parentes. 1Depois disso, Jesus andava pela Galileia. Não queria andar pela Judeia porque os judeus dali o queriam matar. 2Estava perto a festa dos judeus, chamada dos Tabernáculos. 3Então os seus irmãos lhe disseram: “Sai daqui e vai para a Judeia, para que teus discípulos vejam as obras que fazes. 4Ninguém age em segredo quando deseja ser conhecido do público. Já que fazes estas coisas, mostra-te ao mundo”. 5Pois, nem mesmo seus irmãos acreditavam nele. 6Jesus lhes disse: “O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso tempo está sempre preparado. 7O mundo não vos pode odiar. Odeia porém a mim, porque testemunho contra ele de que suas obras são más. 8Subi, vós, para a festa. Para esta festa eu não vou, porque ainda não se cumpriu o meu tempo”. 9Tendo dito isto, Jesus ficou na Galileia.

Jesus na festa das Tendas. 10Mas depois que os irmãos tinham ido, também ele foi para a festa. Não foi em público, mas secretamente. 11Os judeus o procuravam na festa e perguntavam: “Onde está ele?” 12E havia muitos comentários a seu respeito entre o povo. Uns diziam: “Ele é bom”. Outros, porém, diziam: “Não, ele engana o povo”. 13Mas ninguém falava abertamente sobre ele, por medo dos judeus. 14Quando a festa estava pelo meio, Jesus subiu ao Templo e começou a ensinar. 15Os judeus ficavam admirados e diziam: “Como é que ele conhece as Escrituras sem ter estudado?” 16Jesus respondeu-lhes: “Minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. 17Se alguém quiser fazer a vontade dele saberá se minha doutrina é de Deus, ou se falo de mim mesmo. 18Quem fala de si mesmo procura a própria glória; mas quem procura a glória daquele que o enviou é digno de fé e nele não há injustiça. 19Não foi Moisés que vos deu a Lei? E, no entanto, nenhum de vós cumpre a Lei. Por que procurais matar-me?” 20A multidão respondeu: “Tu estás possuído do demônio! Quem é que procura matar-te?” 21Jesus respondeu: “Eu fiz uma única obra e todos ficastes espantados. 22Moisés vos deu a circuncisão – não que ela provenha de Moisés, mas dos pais – e vós circuncidais um homem no sábado. 23Se um homem recebe a circuncisão no sábado, para se cumprir a Lei de Moisés, por que vos irritais contra mim porque curei totalmente um homem no sábado? 24Não julgueis pelas aparências, mas julgai segundo a justiça”.

Será ele o Cristo? 25Algumas pessoas de Jerusalém diziam: “Não é este o homem que estão tentando matar? 26E ele fala livremente sem que lhe digam nada. Será que as autoridades realmente reconheceram que ele é o Cristo? 27Nós sabemos de onde este homem vem; mas quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde vem”. 28Jesus estava ensinando no Templo e disse em voz alta: “Vós me conheceis e sabeis donde eu sou. Eu não vim por mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, embora não o conheçais. 29Eu o conheço porque venho da parte dele, e ele me enviou”. 30Procuravam prendê-lo, mas ninguém punha as mãos nele, porque ainda não tinha chegado a sua hora.

Atitudes diante de Jesus. 31Muitos do povo creram nele e perguntavam: “Quando vier o Cristo, será que fará mais sinais do que ele?” 32Os fariseus e sumos sacerdotes ouviram estes comentários e mandaram guardas para prendê-lo. 33Jesus disse: “Ainda ficarei um pouco de tempo convosco, depois irei para aquele que me enviou. 34Vós me procurareis e não me achareis. E para onde eu vou, vós não podeis ir”. 35Os judeus comentavam entre si: “Para onde é que ele vai que não poderemos achá-lo? Porventura irá para o meio dos judeus dispersos entre os gregos para ensinar aos gregos? 36O que é isso que diz: vós me procurareis e não me achareis, e para onde eu vou, vós não podeis ir?”

Os rios de água viva. 37No último dia, o mais importante da festa, Jesus falou de pé e em voz alta: “Se alguém tiver sede venha a mim e beba. 38Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva”. 39Referia-se ao Espírito que haviam de receber aqueles que cressem nele. De fato, ainda não tinha sido dado o Espírito, pois Jesus ainda não tinha sido glorificado.

Reação do povo e dos chefes. 40Ouvindo estas palavras, alguns da multidão começaram a dizer: “Este é realmente o Profeta”. 41Outros diziam: “Ele é o Cristo”. Mas outros protestavam: “Por acaso o Cristo virá da Galileia? 42Não diz a Escritura que o Cristo será da família de Davi e virá de Belém, povoado de onde era Davi?” 43Surgiu assim uma divisão entre o povo por causa de Jesus. 44Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele. 45Os guardas voltaram para junto dos sumos sacerdotes e fariseus, que lhes perguntaram: “Por que não o trouxestes?” 46Os guardas responderam: “Jamais alguém falou como este homem fala”. 47Os fariseus lhes disseram: “Será que também vós fostes enganados? 48Por acaso alguém das autoridades ou dos fariseus acreditou nele? 49Aliás, esta gente que ignora a Lei são uns amaldiçoados”. 50Mas um dos fariseus, de nome Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido procurar Jesus, perguntou: 51“Por acaso a nossa Lei condena alguém sem antes ouvi-lo e saber o que ele fez?” 52Responderam-lhe: “Tu também és da Galileia? Investiga e verás que da Galileia não sai nenhum profeta”. 53E eles se retiraram cada um para sua casa.

8 A mulher adúltera. 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De manhã, voltou para o Templo. Todo o povo se juntou em torno dele. E ele, sentado, se pôs a ensinar. 3Então os escribas e fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio do círculo e 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Na Lei, Moisés nos manda apedrejar as adúlteras; mas tu o que dizes?” 6Perguntavam isto para testá-lo, a fim de terem do que o acusar. Jesus, porém, inclinou-se e começou a escrever com o dedo no chão. 7Como insistissem em perguntar, ergueu-se e lhes disse: “Aquele de vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra”. 8E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. 9Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher que permanecia ali no meio. 10Erguendo-se, disse para a mulher: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Jesus lhe disse: “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques”.

Jesus, luz do mundo. 12Jesus falou-lhes outra vez: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. 13Então os fariseus lhe disseram: “Tu dás testemunho de ti mesmo. O teu testemunho não é digno de fé”. 14Jesus respondeu-lhes: “Embora eu dê testemunho de mim mesmo, meu testemunho é verdadeiro, pois sei donde vim e para onde vou. Vós é que não sabeis donde eu venho, nem para onde vou. 15Vós julgais segundo as aparências, eu não julgo ninguém. 16E quando julgo, o meu julgamento é conforme a verdade porque não estou sozinho, mas o Pai que me enviou está comigo. 17Aliás, na vossa Lei está escrito: o testemunho de duas pessoas é digno de fé. 18Quem dá testemunho de mim sou eu mesmo e o Pai que me enviou”. 19Perguntaram-lhe: “Onde está teu Pai?” Jesus respondeu: “Vós não conheceis nem a mim, nem a meu Pai. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai”. 20Jesus proferiu estas palavras quando ensinava no Templo, junto aos cofres de esmola. E ninguém o prendeu, porque ainda não havia chegado a sua hora.

Advertência aos descrentes. 21Outra vez, Jesus lhes disse: “Eu vou embora, e vós me procurareis, mas havereis de morrer no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”. 22Então os judeus começaram a se perguntar: “Será que ele vai matar-se, pois diz: para onde eu vou, não podeis ir?” 23Jesus lhes disse: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24É por isso que eu vos disse: morrereis no vosso pecado. Pois se não crerdes que eu sou, morrereis no vosso pecado”. 25“Quem és tu?” – perguntaram-lhe então. Jesus respondeu: “Desde o começo venho dizendo quem eu sou. 26Tenho muitas coisas para dizer e condenar a vosso respeito. Mas aquele que me enviou é verdadeiro, e eu falo ao mundo o que dele ouvi”. 27Mas eles não compreenderam que lhes falava do Pai. 28Jesus então lhes disse: “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, sabereis que eu sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo assim como o Pai me ensinou. 29Quem me enviou está comigo. Não me deixou sozinho, pois faço sempre o que é do seu agrado”.

Na fé está a libertação. 30Ao falar isso, muitos creram nele. 31E Jesus disse aos judeus que acreditaram nele: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 33“Somos descendentes de Abraão – disseram eles – e jamais fomos escravos de alguém. Como podes dizer que seremos livres?” 34Jesus respondeu: “Na verdade eu vos digo: todo aquele que comete pecado é escravo do  pecado. 35Ora, o escravo não fica na casa para sempre, maso filho fica para sempre. 36Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis de fato livres.

Quem crê, é filho de Abraão. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão, mas quereis matar-me porque minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo do que vi junto do Pai, e vós fazeis o que aprendestes de vosso pai”. 39“Nosso pai é Abraão” – responderam eles. Jesus lhes disse: “Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. 40No entanto, agora quereis tirar-me a vida, a um homem que vos tem falado a verdade que ouviu de Deus. Isso Abraão não fez. 41Vós fazeis as obras de vosso pai”. Eles lhe responderam: “Nós não nascemos da prostituição; temos um só Pai que é Deus”. 42Jesus lhes disse: “Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis. Saí e venho de Deus. Não vim por mim mesmo. Foi Deus que me enviou. 43Por que não compreendeis a minha linguagem? É porque não sois capazes de ouvir minha palavra. 44Vós tendes como pai o diabo e quereis fazer os desejos de vosso pai. Desde o princípio ele foi homicida e não se manteve na verdade, porque a verdade não está com ele. Quando mente, fala do que é seu, pois é mentiroso e pai da mentira. 45Mas em mim, porque vos digo a verdade, vós não credes. 46Quem de vós poderá acusar-me de pecado? Se vos digo a verdade, por que não acreditais em mim? 47Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. Vós não as ouvis porque não sois de Deus”.

Jesus, maior que Abraão. 48Os judeus lhe responderam: “Não temos razão em dizer que és um samaritano e tens um demônio?” 49Jesus respondeu: “Eu não tenho demônio. Ao contrário, honro meu Pai, e vós me desonrais. 50Eu não procuro a minha glória. Há quem a procure e julgue. 51Na verdade eu vos digo: se alguém guardar minha palavra, jamais verá a morte”. 52Então os judeus disseram: “Agora nos convencemos de que tens um demônio. Abraão morreu, os profetas também, e tu dizes: ‘quem guardar minha palavra nunca provará da morte’. 53Acaso és maior do que nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas também morreram. Quem  pretendes ser?” 54Em resposta Jesus disse: “Se me glorifico a mim mesmo, minha glória não é nada. Meu Pai é que me glorifica. Ele, de quem dizeis ser vosso Deus. 55Vós não o conheceis, mas eu o conheço. Se dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas eu o conheço e guardo sua palavra. 56Abraão, vosso pai, alegrou-se porque haveria de ver o meu dia. Viu-o e exultou”. 57Os judeus disseram a Jesus: “Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?” 58Jesus respondeu: “Na verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou”. 59Então os judeus apanharam pedras para atirar em Jesus, mas ele se escondeu e saiu do Templo.

9 A cura do cego de nascença. 1Jesus estava passando e viu um homem que era cego de nascença. 2Os discípulos perguntaram-lhe: “Mestre, quem foi que pecou, ele ou seus pais, para ele nascer cego?” 3Jesus respondeu: “Ninguém pecou, nem ele nem seus pais, mas é para que as obras de Deus se manifestem nele. 4É preciso trabalhar nas obras de quem me enviou enquanto é dia. Virá a noite, quando já ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. 6Ao falar isso, Jesus cuspiu no chão, fez um pouco de lama com a saliva, passou nos olhos do cego e 7disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” – que quer dizer Enviado. O cego foi, lavou-se e voltou vendo. 8Os vizinhos e quem antes o conhecia, pois era mendigo, diziam: “Não é aquele que estava sentado pedindo esmola?” 9Uns respondiam: “É sim”. Outros contestavam: “Não é ele não, apenas parece com ele”. Mas ele mesmo dizia: “Sou eu, sim”. 10Perguntaram-lhe então: “Como se abriram os teus olhos?” 11Ele respondeu: “O homem chamado Jesus fez um pouco de lama, passou nos meus olhos e disse: ‘vai a Siloé lavar-te’. Fui, lavei-me e recuperei a vista”. 12“Onde está ele?”, perguntaram-lhe. O cego respondeu: “Não sei”. 13Levaram então o cego curado à presença dos fariseus. 14Ora, o dia em que Jesus fez a lama e abriu os olhos do cego era um sábado. 15Os fariseus perguntaram novamente ao cego como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: “Ele me pôs lama nos olhos, eu me lavei e estou vendo”. 16Então alguns dos fariseus comentaram: “Este homem não pode vir de Deus, pois não guarda o sábado”. Outros diziam: “Mas como pode um homem pecador fazer tão grandes sinais?” E eles ficaram divididos. 17Dirigiram-se novamente ao cego: “E tu, o que dizes daquele que te abriu os olhos?” Ele respondeu: “É um profeta”. 18Os judeus já não queriam admitir que o homem fora cego e tivesse recuperado a vista. Por isso chamaram os pais dele 19e os interrogaram: “Este é o vosso filho que afirmais ter nascido cego? Como então ele agora está enxergando?” 20Os pais responderam: “Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego. 21Mas não sabemos como agora está enxergando, ou quem lhe abriu os olhos. Perguntai a ele. Já tem idade para falar por si próprio”. 22Os pais disseram isso porque tinham medo dos judeus. É que eles tinham ameaçado expulsar da sinagoga quem reconhecesse Jesus como Cristo. 23Foi por isso que os pais do cego disseram: “Perguntai a ele. Já tem idade”. 24Tornaram a chamar o homem que tinha sido cego e disseram: “Dá glória a Deus. Nós sabemos que aquele homem é um pecador”. 25O cego lhes disse: “Se é um pecador, não sei. Sei apenas que antes eu era cego e agora estou vendo”. 26Perguntaram-lhe mais uma vez: “O que foi que ele te fez? Como te abriu os olhos?” 27Ele respondeu: “Eu já vos disse, e não me destes ouvidos. Por que quereis ouvir de novo? Será que também vós quereis tornar-vos discípulos dele?” 28Entre insultos, eles disseram: “Tu és discípulo dele, nós somos discípulos de Moisés. 29Nós sabemos que Deus falou a Moisés. Quanto a este, não sabemos de onde vem”. 30O cego respondeu: “É espantoso que não saibais donde ele vem, apesar de me ter aberto os olhos. 31Sabemos que Deus não atende a pecadores, mas escuta a quem é piedoso e faz a sua vontade. 32Jamais se ouviu dizer que alguém tivesse aberto os olhos a um cego de nascença. 33Se este homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada”. 34Eles disseram: “Tu nasceste em pecado e nos queres ensinar?” E o expulsaram.

A cegueira espiritual. 35Jesus soube que o haviam expulsado e, quando o encontrou, perguntou-lhe: “Crês no Filho do homem?” 36“Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?” – respondeu. 37Jesus lhe disse: “Tu o estás vendo: é aquele que fala contigo”. 38“Creio, Senhor”, disse ele, e prostrou-se diante de Jesus. 39E Jesus disse: “Eu vim a este mundo para fazer uma separação: a fim de que os cegos vejam, e os que veem se tornem cegos”. 40Alguns dos fariseus presentes ouviram isto e perguntaram: “Por acaso também nós somos cegos?” 41“Se fôsseis cegos – disse-lhes Jesus – não teríeis pecado; mas como dizeis: ‘vemos’, o vosso pecado permanece.

10 O bom pastor. 1Na verdade eu vos digo: quem não entra pela porta do curral das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. 2Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3Para este o porteiro abre a porta, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as ovelhas que lhe pertencem pelo nome e as leva para fora. 4Depois de fazer sair todas, vai na frente, e elas o seguem porque conhecem a sua voz. 5Não seguem o estranho, mas fogem dele, pois não conhecem a voz do estranho”. 6Jesus falou de modo figurado, e eles não entenderam o que queria dizer. 7Por isso Jesus continuou: “Na verdade eu vos digo: eu sou a porta das ovelhas. 8Todos que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram. 9Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo. Entrará e sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. 11Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor, de quem não são as ovelhas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. 13Assim age porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16Possuo ainda outras ovelhas que não são deste curral. É preciso que eu as conduza; elas ouvirão minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17O Pai me ama porque dou minha vida para de novo a retomar. 18Ninguém a tira de mim. Sou eu mesmo que a dou. Tenho o poder de dá-la e o poder de retomá-la. Esta é a ordem que recebi do meu Pai”. 19Surgiu de novo desacordo entre os judeus por causa dessas palavras. 20Muitos deles diziam: “Ele está possuído de demônio e perdeu o juízo; por que o escutais?” 21Outros diziam: “Estas palavras não são de quem está possuído de demônio. Por acaso um demônio pode abrir os olhos aos cegos?”

Jesus se revela e é rejeitado. 22Era inverno em Jerusalém, e celebrava-se a festa da Dedicação do Templo. 23Jesus passeava no Templo, pelo pórtico de Salomão. 24Então os judeus o rodearam e perguntaram: “Até quando nos deixarás na dúvida? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente”. 25Jesus lhes respondeu: “Já vos disse e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai dão testemunho de mim. 26Mas vós não acreditais porque não sois minhas ovelhas. 27Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço e elas me seguem. 28Eu lhes dou a vida eterna e elas nunca morrerão, e ninguém as arrancará de minha mão. 29Meu Pai que me deu as ovelhas é maior do que todos, e ninguém poderá retirá-las da mão do meu Pai. 30Eu e o Pai somos um”. 31Os judeus apanharam de novo pedras para apedrejá-lo. 32Então Jesus lhes disse: “Muitas obras boas vos tenho mostrado da parte de meu Pai. Por qual delas me apedrejais?” 33Eles responderam: “Por nenhuma obra boa te apedrejamos, mas sim pela blasfêmia, pois sendo homem te fazes Deus”. 34Jesus respondeu: “Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: vós sois deuses? 35Se a Lei chama deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus – e a Escritura não pode falhar – 36como podeis dizer que blasfema aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo só porque eu disse: ‘Sou Filho de Deus’? 37Se eu não faço as obras do Pai, não acrediteis em mim. 38Mas, se as faço, mesmo que não acrediteis em mim, crede nas obras. Assim sabereis e reconhecereis que o Pai está em mim e eu no Pai”. 39De novo procuraram prendê-lo, mas ele se esquivou de suas mãos. 40Jesus se retirou novamente para o outro lado do Jordão, onde João tinha começado a batizar, e lá permaneceu. 41Muitos vinham a ele e diziam: “Na verdade, João não fez nenhum sinal, mas todas as coisas que ele disse deste homem eram verdadeiras”. 42E ali muitos creram em Jesus.

11 A ressurreição de Lázaro. 1Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. 2Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com óleo perfumado e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos. Seu irmão Lázaro estava enfermo. 3As irmãs mandaram dizer a Jesus: “Senhor, aquele a quem amas está doente”. 4Quando ouviu isso, Jesus disse: “Esta doença não causará a morte, mas se destina à glória de Deus: por ela o Filho de Deus será glorificado”. 5Ora, Jesus amava Marta, sua irmã e Lázaro. 6Embora estivesse informado de que ele estava doente, demorou-se ainda dois dias naquele lugar. 7Depois disse aos discípulos: “Voltemos para a Judeia”. 8Os discípulos disseram: “Mestre, há pouco os judeus te queriam apedrejar e tu voltas para lá?” 9Jesus respondeu: “Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça porque vê a luz deste mundo; 10mas se caminha de noite, tropeça porque lhe falta a luz”. 11Depois destas palavras, acrescentou: “Lázaro, nosso amigo, adormeceu, mas eu vou despertá-lo”. 12“Senhor, se ele está dormindo é porque vai ficar bom” – disseram os discípulos. 13Jesus se referia à morte, mas eles pensavam que estivesse falando do repouso do sono. 14Então Jesus lhes falou claramente: “Lázaro morreu. 15Eu me alegro de não ter estado lá, para que vós assim acrediteis. Mas vamos até ele”. 16Tomé, chamado Dídimo, disse então aos companheiros: “Vamos nós também para morrermos com ele”. 17Quando Jesus chegou, já fazia quatro dias que Lázaro estava no túmulo. 18Betânia ficava perto de Jerusalém, a uns três quilômetros. 19Muitos judeus tinham vindo até Marta e Maria para as consolar da morte do irmão. 20Quando Marta ouviu que Jesus havia chegado, saiu-lhe ao encontro. Maria ficou sentada em casa. 21Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22Sei, porém, que tudo quanto pedires a Deus ele te concederá”. 23Jesus respondeu: “Teu irmão ressuscitará”. 24“Sei que ele ressuscitará na ressurreição do último dia” – disse Marta. 25Jesus lhe disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. 26E quem vive e crê em mim jamais morrerá”. Crês isto?” 27“Sim, Senhor – respondeu ela –, creio que és o Cristo, o Filho de Deus, que devia vir a este mundo”. 28Dito isso, ela foi chamar sua irmã Maria e disse-lhe baixinho: “O Mestre está aí e te chama”. 29Ao ouvir isso, Maria levantou-se imediatamente e foi ao encontro dele. 30É que Jesus ainda não havia entrado no povoado, mas ficou lá onde Marta o tinha encontrado. 31Os judeus, que estavam em casa com ela e a consolavam, vendo que Maria se tinha levantado e saído às pressas, seguiram-na pensando: “Ela vai ao sepulcro para chorar”. 32Assim que Maria chegou onde Jesus estava, lançou-se aos pés dele e disse: “Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido”. 33Quando viu que Maria e todos os judeus que vinham com ela estavam chorando, Jesus se comoveu profundamente. E, emocionado, 34perguntou: “Onde o pusestes?” “Senhor, vem ver” – disseram-lhe. 35Jesus começou a chorar. 36Os judeus comentavam: “Vede como ele o amava”. 37Alguns, porém, disseram: “Ele, que abriu os olhos do cego de nascença, não podia fazer com que Lázaro não morresse?” 38Tomado novamente de profunda emoção, Jesus se dirigiu ao sepulcro. Era uma gruta com uma pedra colocada na entrada. 39Jesus ordenou: “Tirai a pedra”. Marta, irmã do morto, disse: “Senhor, já está cheirando mal, pois já são quatro dias que está aí”. 40Jesus respondeu: “Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?” Tiraram então a pedra. 41Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me atendeste. 42Eu sei que sempre me atendes, mas digo isto por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que tu me enviaste”. 43Depois dessas palavras, gritou bem forte: “Lázaro, vem para fora”! 44O morto saiu com os pés e as mãos atados com faixas e o rosto envolto num sudário. Jesus ordenou: “Desatai-o e deixai-o andar”.

A trama para matar Jesus. 45Muitos judeus, que tinham ido visitar Maria e visto o que Jesus fizera, acreditaram nele. 46Outros, porém, foram ter com os fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. 47Então os sumos sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio e disseram: “O que faremos? Este homem faz muitos sinais. 48Se o deixarmos assim, todos vão acreditar nele; depois virão os romanos e destruirão nosso lugar santo e nossa nação”. 49Um deles, Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes: “Vós não entendeis nada! 50Não compreendeis que é melhor para nós que morra um só homem pelo povo para que não pereça a nação toda?” 51Ele não disse isto por si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote daquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pelo povo; 52e não só pelo povo, mas também para reunir na unidade os filhos de Deus que estão dispersos. 53A partir desse dia resolveram tirar-lhe a vida. 54Por isso, Jesus já não andava em público entre os judeus. Retirou-se, em vez disso, para a região próxima ao deserto, para uma cidade chamada Efraim, e ali morava com os discípulos.

Às vésperas da Páscoa. 55Estava próxima a Páscoa dos judeus. Muitos subiam do interior para Jerusalém antes da Páscoa a fim de se purificar. 56Procuravam Jesus e perguntavam uns aos outros no Templo: “Que vos parece? Será que ele vem para a festa?” 57De fato, os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse a fim de o prenderem.

12 A unção em Betânia. 1Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde estava Lázaro que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Prepararam ali um jantar para Jesus. Marta estava servindo, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. 3Maria pegou então um frasco de um perfume de nardo puro muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa ficou toda perfumada. 4Judas Iscariotes, um dos discípulos que o havia de trair, disse: 5“Por que não foi vendido esse perfume por trezentas moedas de prata para dá-las aos pobres?” 6Falava assim não porque se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão. Tomava conta da bolsa e roubava o que nela depositavam. 7Jesus disse então: “Deixa-a. Ela reservou esse perfume para o dia de minha sepultura. 8Sempre tereis pobres convosco, mas a mim nem sempre tereis”. 9Grande multidão de judeus soube que Jesus estava lá e vieram, não só por causa de Jesus, mas para verem Lázaro, a quem havia ressuscitado dos mortos. 10Os sumos sacerdotes tinham decidido matar também Lázaro, 11porque devido a ele muitos judeus se afastavam deles e criam em Jesus.

Entrada triunfal em Jerusalém. 12No dia seguinte, a numerosa multidão que tinha ido à festa ouviu dizer que Jesus estava chegando a Jerusalém. 13Pegaram ramos de palmeira e saíram ao encontro de Jesus, aclamando: “Hosana! Bendito quem vem em nome do Senhor, o rei de Israel”. 14Jesus encontrou um jumentinho e montou em cima dele, conforme está escrito: 15Não temas, filha de Sião! Aí vem o teu rei montado num filho de jumenta. 16A princípio, os discípulos não compreenderam estas coisas. Mas, quando Jesus foi glorificado, lembraram-se que isso estava escrito a seu respeito, e que assim lhe fizeram. 17O povo que estivera presente quando Jesus chamou Lázaro do sepulcro e o ressuscitou dos mortos dava testemunho a seu respeito. 18O povo saía ao encontro de Jesus porque tinha ouvido falar que ele havia realizado esse sinal. 19Os fariseus disseram então uns as outros: “Estais vendo que não conseguimos nada. Todo mundo corre atrás dele!”

A hora da cruz e da glória. 20Entre os que tinham subido para adorar no dia da festa havia alguns gregos. 21Eles se aproximaram de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e pediram: “Senhor, queremos ver Jesus”. 22Filipe falou isto para André. Então André e Filipe foram dizer isso a Jesus. 23Jesus respondeu-lhes: “É chegada a hora em que o Filho do homem será glorificado. 24Na verdade eu vos digo: se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se morrer, produzirá muito fruto. 25Quem ama sua vida vai perdê-la; mas quem não se apega à vida neste mundo vai guardá-la para a vida eterna. 26Se alguém quiser me servir, siga-me. Onde eu estiver, estará também quem me serve. Se alguém me servir, o Pai o honrará. 27Agora minha alma está perturbada. Mas o que direi? Pai, livra-me desta hora? Mas é exatamente para isso que vim, para esta hora. 28Pai, glorifica o teu nome”. Veio, então, uma voz do céu: “Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo”. 29ª multidão, que ali se encontrava e tinha ouvido isto, dizia: “Trovejou”. Outros diziam: “Um anjo falou com ele”. 30Jesus disse: “Não é para mim que esta voz se fez ouvir, mas para vós. 31Agora é o julgamento deste mundo. Agora o príncipe deste mundo será lançado fora. 32E quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”. 33Jesus dizia isso para indicar de que morte haveria de morrer. 34A multidão lhe respondeu: “Nós sabemos pela Lei que o Cristo vai permanecer para sempre. Como podes dizer que é necessário que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?” 35Jesus lhes disse: “Por pouco tempo ainda a luz está no vosso meio. Caminhai enquanto tendes luz, para que a escuridão não vos surpreenda, pois quem caminha na escuridão não sabe para onde vai. 36Enquanto tendes luz, crede na luz, para serdes filhos da luz”. Depois de assim falar, Jesus retirou-se e se escondeu deles.

A incredulidade dos judeus. 37Embora tivesse feito tantos sinais na presença deles, não acreditavam nele. 38Assim se cumpria a palavra do profeta Isaías: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem? E o braço do Senhor, a quem foi revelado? 39Não puderam crer porque – como tinha dito Isaías: 40Deus cegou os olhos deles e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, não entendam com o coração, nem se convertam, e assim eu não os cure. 41E Isaías o disse porque viu sua glória e falou dele. 42Não obstante, também muitos dos chefes creram nele. No entanto, por causa dos fariseus não se manifestavam, temendo serem expulsos da sinagoga. 43É que eles amavam mais a glória que vem dos homens do que a glória que vem de Deus.

A palavra julgadora de Jesus. 44Então Jesus falou em voz alta: “Quem crê em mim, não crê em mim, mas naquele que me enviou. 45Quem me vê, vê aquele que me enviou. 46Eu vim como a luz do mundo, para que quem crê em mim não fique na escuridão. 47Se alguém escuta as minhas palavras e não as guarda, eu não o condeno, porque não vim para condenar o mundo, mas para o salvar. 48Quem me rejeita e não recebe minhas palavras, já tem quem o condene: a palavra que falei é que o condenará no último dia. 49Porque eu não falei por mim mesmo. O próprio Pai, que me enviou, é que me ordenou o que devo dizer e falar. 50Eu sei que seu mandamento é a vida eterna. Assim, pois, as coisas que falo, eu as falo conforme me disse o Pai”.

II. JESUS PASSA DESTE MUNDO PARA O PAI

13 A última ceia e o lava-pés. 1Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a hora de passar deste mundo para o Pai. E, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2Durante a ceia, o diabo já tinha posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o propósito de entregá-lo. 3Jesus sabia que o Pai lhe tinha colocado todas as coisas nas mãos; sabia que tinha saído de Deus e para Deus voltava. 4Levantou-se então da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5Depois derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha da cintura. 6Ao chegar a Simão Pedro, este lhe disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” 7Jesus respondeu-lhe: “O que estou fazendo não o entendes agora. Mais tarde o compreenderás”. 8“Jamais me lavarás os pés” – disse Pedro. Jesus respondeu: “Se não te lavar os pés, não terás parte comigo”. 9Simão Pedro disse: “Então, Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça”. 10Jesus lhe disse: “Quem se banhou precisa lavar só os pés, pois está todo limpo. Vós estais limpos, mas nem todos”. 11Jesus sabia quem havia de entregá-lo. Por isso disse: “Nem todos estais limpos”. 12Depois de lavar-lhes os pés, vestiu o manto, pôs-se de novo à mesa e perguntou-lhes: “Sabeis o que vos fiz? 13Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou. 14Se pois eu, Mestre e Senhor, vos lavei os pés,  também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo para que façais o mesmo que eu vos fiz. 16Na verdade eu vos digo que o escravo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro maior do que aquele que o enviou. 17Se compreenderdes isto e o praticardes, sereis felizes. 18Eu não falo de todos vós. Conheço os que escolhi. Mas é preciso que se cumpra a palavra da Escritura: Aquele que come o pão comigo levantou contra mim o calcanhar. 19Desde já, antes que aconteça, eu vo-lo digo, para que, quando acontecer, creiais que eu sou. 20Na verdade eu vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, é a mim que recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou”.

O anúncio da traição. 21Tendo dito isso, Jesus ficou comovido e afirmou: “Na verdade eu vos digo: um de vós me entregará”. 22Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava. 23Um deles, a quem Jesus amava, estava à mesa ao lado de Jesus. 24Simão Pedro lhe fez um sinal para que perguntasse de quem estava falando. 25Inclinando-se sobre o peito de Jesus, o discípulo perguntou: “Senhor, quem é?” 26Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado”. E, molhando um pedaço de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27Depois de receber o pão, satanás entrou nele. Então Jesus lhe disse: “Faze logo o que tens a fazer”. 28Ninguém que estava à mesa entendeu por que Jesus disse isso. 29Alguns pensaram que, sendo Judas quem tomava conta da bolsa, Jesus lhe dissera: “Compra o que precisamos para a festa”, ou que desse alguma coisa aos pobres. 30Quanto a Judas, pegou o pedaço de pão e saiu imediatamente. Era noite.

O preceito da caridade. 31Assim que Judas saiu, disse Jesus: “Agora o Filho do homem foi glorificado e Deus nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará em breve. 33Filhinhos, só por pouco tempo estarei convosco. Vós me procurareis, e eu vos digo agora o que já disse aos judeus: ‘para onde eu vou, vós não podeis ir’. 34Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. 35Todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

Pedro negará Jesus. 36Simão Pedro lhe disse: “Senhor, para onde vais?” “Para onde vou não podes seguir-me agora – respondeu Jesus –. Tu me seguirás mais tarde”. 37Pedro lhe disse: “Senhor, por que não te posso seguir agora? Darei a minha vida por ti”. 38Jesus respondeu: “Darás tua vida por mim? Na verdade eu te digo: antes que o galo cante tu me negarás três vezes.

14 Jesus é o caminho para o Pai. 1Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois eu vou preparar-vos um lugar. 3Quando tiver ido e tiver preparado um lugar para vós, voltarei novamente e vos levarei comigo para que, onde eu estiver, estejais também vós. 4E vós conheceis o caminho para onde vou”. 5Tomé disse-lhe: “Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos conhecer o caminho?” 6Jesus respondeu: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. 7Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto”. 8Filipe disse-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta”. 9Jesus lhe disse: “Filipe, há tanto tempo estou convosco e não me conheces? Quem me viu, viu o Pai. Como podes dizer: mostra-nos o Pai? 10Não crês que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo. O Pai que habita em mim é que realiza suas obras. 11Crede em mim: eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede ao menos por causa dessas obras. 12Na verdade eu vos digo: quem crê em mim fará também as obras que eu faço. E fará maiores ainda do que essas, porque eu vou para o Pai. 13O que pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. 14Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.

A promessa do Espírito. 15Se me amais, guardareis meus mandamentos. 16Eu pedirei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, que estará convosco para sempre. 17Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis porque permanece convosco e está em vós. 18Não vos deixarei órfãos. Voltarei para vós. 19Dentro de pouco tempo, o mundo não me verá mais. Vós, porém, me vereis porque eu vivo e vós vivereis. 20Naquele dia sabereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós. 21Quem recebe os meus mandamentos e os observa, esse é que me ama. Quem me ama será amado pelo meu Pai. Eu também o amarei e me revelarei a ele”. 22Judas, não o Iscariotes, perguntou-lhe: “Senhor, por que razão te manifestarás a nós e não ao mundo?” 23Jesus lhe respondeu: “Se alguém me ama, guarda minha palavra; meu Pai o amará, viremos a ele e nele faremos morada. 24Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou. 25Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. 26Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse. 27Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz. Eu vo-la dou não como o mundo a dá. Não fiqueis perturbados nem tenhais medo. 28Ouvistes que eu vos disse: eu vou, mas volto para vós. Se me amásseis, certamente haveríeis de alegrar-vos. Porque eu vou para junto do Pai, e o Pai é maior do que eu. 29Disse-vos agora estas coisas antes que aconteçam, para que creiais quando acontecerem. 30Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe do mundo. Ele não tem nenhum poder sobre mim. 31Mas o mundo deve saber que eu amo o Pai e faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos e vamos embora daqui.

15 A videira e os ramos. 1Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. 2Ele corta todo ramo que em mim não dá fruto, e poda todo aquele que dá fruto, para que produza mais. 3Vós já estais limpos por causa da palavra que vos tenho anunciado. 4Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Assim também vós, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora como o ramo e secará; será ajuntado, jogado no fogo e queimado. 7Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será dado. 8Meu Pai será glorificado, se derdes muito fruto e vos tornardes meus discípulos. 9Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu também guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. 11Disse-vos estas coisas para que minha alegria esteja convosco, e a vossa alegria seja completa. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. 13Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. 14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. 15Já não vos chamo escravos, porque o escravo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi. Eu vos destinei para irdes dar fruto e para que vosso fruto permaneça, a fim de que ele vos dê tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome. 17É isto que eu vos mando: que vos ameis uns aos outros.

Ódio do mundo. 18Se o mundo vos odeia, sabei que antes odiou a mim. 19Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como algo seu. Como não sois do mundo, mas eu vos escolhi do mundo, por isso o mundo vos odeia. 20Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: o escravo não é maior do que o senhor. Se perseguiram a mim, também hão de perseguir a vós. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa. 21Mas tudo isso vos farão por causa de meu nome, porque não conhecem quem me enviou. 22Se eu não tivesse vindo nem falado a eles, não teriam pecado. Agora, porém, não há desculpa para o pecado deles. 23Quem me odeia, odeia também meu Pai. 24Se eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez, não teriam pecado. Mas agora já as viram e, apesar disso, odiaram a mim e a meu Pai. 25Isso, porém, foi para que se cumprisse a palavra que está escrita na sua Lei: Odiaram-me sem motivo! 26Quando vier o Paráclito, que eu vos enviarei da parte do  Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. 27E vós também dareis testemunho, porque desde o princípio estais comigo.

16 1Disse-vos estas coisas para vos preservar de alguma queda. 2Vão expulsar-vos das sinagogas, e virá a hora em que qualquer um que vos tirar a vida julgará estar prestando um serviço a Deus. 3Farão isso porque não conheceram o Pai nem a mim. 4Eu vos disse estas coisas para que, ao chegar a hora, vos lembreis delas porque eu vos adverti. Não vos disse isso desde o princípio porque eu estava convosco.

A missão do Espírito. 5Agora, porém, vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: para onde vais? 6Mas, porque vos falei estas coisas, vosso coração encheu-se de tristeza. 7No entanto, eu vos digo a verdade: convém a vós que eu vá. Pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas, se eu for, eu o enviarei a vós. 8Quando ele vier, convencerá o mundo do que é pecado, justiça e julgamento. 9Convencerá do que é pecado, porque não creram em mim; 10do que é justiça, porque vou para o Pai e já não me vereis; 11do que é julgamento, porque o príncipe deste mundo já está condenado. 12Muitas coisas ainda tenho para dizer-vos, mas não as podeis compreender agora. 13Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas do que ouvir, e vos anunciará as coisas futuras. 14Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará. 15Tudo que o Pai tem é meu. É por isso que eu disse: receberá do que é meu e vos anunciará.

Da dor à alegria. 16Ainda um pouco de tempo e não me vereis mais; mais um pouco de tempo e me tornareis a ver”. 17Alguns dos discípulos se perguntaram: “O que é isso que ele nos diz: ainda um pouco de tempo e não me vereis; mais um pouco de tempo e me tornareis a ver? E também o que significa: eu vou para o Pai?” 18Diziam ainda: “O que significa este ‘um pouco de tempo’ de que fala? Não sabemos o que ele quer dizer”. 19Jesus sabia o que eles queriam perguntar e lhes disse: “Perguntais entre vós por que eu disse: ainda um pouco de tempo e não me vereis; mais um pouco de tempo e me tornareis a ver? 20Na verdade eu vos digo: chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Ficareis tristes, mas vossa tristeza se transformará em alegria. 21Quando a mulher está para dar à luz, fica triste porque chegou a sua hora. Mas depois que nasceu a criança, já não se lembra da aflição, pela alegria que sente de ter vindo ao mundo uma pessoa humana. 22Assim também vós estais tristes agora, mas eu vos verei de novo. Então o vosso coração se alegrará e ninguém poderá tirar-vos a alegria. 23Naquele dia não me perguntareis mais nada. Na verdade eu vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará. 24Até agora nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.

Jesus garante a vitória. 25Eu vos disse estas coisas por meio de figuras. Vem a hora em que já não vos falarei por meio de figuras, mas falarei claramente do Pai. 26Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei ao Pai em vosso favor; 27pois o próprio Pai vos ama, porque me amastes e crestes que eu saí de junto de Deus. 28Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto do Pai”. 29Os discípulos lhe disseram: “Agora falas claramente e já não usas figuras. 30Agora sabemos que conheces todas as coisas e não precisas que ninguém te pergunte. Por isso cremos que saíste de Deus”. 31Jesus respondeu-lhes: “Credes agora? 32Pois está chegando a hora, e ela já veio, em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis sozinho. Mas eu não estou sozinho, porque o Pai está comigo. 33Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo”!

17 A oração de Jesus. 1Jesus disse estas coisas e depois, levantando os olhos para o céu, acrescentou: “Pai, é chegada a hora. Glorifica teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. 2Pois lhe conferiste poder sobre toda criatura humana, para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe deste. 3Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste. 4Eu te glorifiquei na terra. Terminei a obra que me deste para fazer. 5E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que tive contigo antes que o mundo fosse criado. 6Revelei teu nome àqueles que do mundo me deste. Eram teus e tu os deste a mim; e eles guardaram a tua palavra. 7Agora reconheceram que todas as coisas que me deste procedem de ti, 8porque lhes transmiti as palavras que me confiaste e eles as receberam; reconheceram verdadeiramente que saí de junto de ti e creram que me enviaste. 9Por eles é que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas pelos que me deste, porque são teus. 10Pois tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado. 11Já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, enquanto eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um como nós. 12Enquanto estava com eles, eu conservava em teu nome aqueles que me deste. Guardei-os e nenhum deles se perdeu a não ser o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. 13Mas agora vou para junto de ti, e falo estas coisas no mundo para que eles compartilhem de minha alegria plenamente. 14Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo. 15Não estou pedindo que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16Eles não são do mundo, como eu também não sou do mundo. 17Consagra-os na verdade: a tua palavra é verdade. 18Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. 19Em favor deles eu mesmo me consagro, para que também eles sejam consagrados na verdade. 20Não rogo apenas por eles, mas por todos aqueles que acreditarem em mim pela sua palavra. 21Que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós, e o mundo creia que tu me enviaste. 22Deilhes a glória que tu me deste, a fim de que sejam um como nós somos um. 23Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo conheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim. 24Pai, quero que os que me deste estejam também comigo onde eu estiver, para que vejam esta minha glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo. 25Pai justo, mesmo se o mundo não te conheceu, eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste. 26Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecido, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles”.

18 A prisão de Jesus. 1Dito isto, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Ali havia um jardim, onde Jesus entrou com os discípulos. 2Judas, que havia de traí-lo, também conhecia o lugar, porque muitas vezes Jesus se reunia lá com os discípulos. 3Judas tomou um pelotão de soldados e alguns guardas, cedidos pelos sumos sacerdotes e fariseus, e dirigiu-se para lá com lanternas, tochas e armas. 4Ciente de tudo o que lhe ia acontecer, Jesus foi ao encontro deles e perguntou: “A quem procurais?” 5Eles responderam: “A Jesus de Nazaré”. Jesus disse: “Sou eu”. Judas, o traidor, estava com eles. 6Quando Jesus disse ‘sou eu’, eles recuaram e caíram por terra. 7Perguntou-lhes pela segunda vez: “A quem procurais?” Eles responderam: “A Jesus de Nazaré”. 8Jesus falou: “Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, deixai que estes se retirem”. 9Assim devia cumprir-se a palavra que ele havia dito: “Ninguém se perdeu daqueles que me deste”. 10Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou-a e feriu o escravo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O escravo se chamava Malco. 11Jesus porém disse a Pedro: “Põe a espada na bainha. Será que não devo beber o cálice que o Pai me deu?”

Jesus na casa de Anás. 12Então o pelotão de soldados, o comandante e os guardas judeus prenderam Jesus e o amarraram. 13Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, sumo sacerdote daquele ano. 14Caifás foi quem tinha aconselhado os judeus: “É melhor que um só homem morra pelo povo”.

Pedro nega Jesus. 15Simão Pedro e outro discípulo acompanhavam Jesus. Este outro discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio. 16Mas Pedro ficou fora, perto da porta. Saiu então o discípulo conhecido do sumo sacerdote, falou com a porteira e fez entrar Pedro. 17A criada que tomava conta da porta perguntou a Pedro: “Não és também tu um discípulo deste homem?” Pedro respondeu: “Não sou”. 18Os escravos e os guardas haviam acendido uma fogueira por causa do frio e estavam se aquecendo. Pedro também estava com eles, de pé, aquecendo-se.

Jesus perante Caifás. 19O sumo sacerdote perguntou a Jesus sobre os discípulos e sua doutrina. 20Jesus lhe respondeu: “Falei publicamente ao mundo. Eu sempre ensinei na sinagoga e no Templo, onde se reúnem todos os judeus. Nada falei escondido. 21Por que me perguntas? Pergunta aos que me ouviram o que foi que lhes disse; eles devem saber do que lhes falei”. 22A estas palavras, um dos guardas a seu lado deu-lhe uma bofetada e disse: “É assim que respondes ao sumo sacerdote?” 23Jesus respondeu: “Se falei mal, mostra-me em quê; mas se falei bem, por que me bates?” 24Então Anás mandou Jesus amarrado a Caifás, o sumo sacerdote.

Pedro nega novamente Jesus. 25Simão Pedro estava no pátio, de pé, aquecendo-se. Perguntaram-lhe: “Não és também tu um discípulo dele?” Pedro negou: “Não sou”. 26Um empregado do sumo sacerdote, parente daquele de quem Pedro tinha cortado a orelha, disse: “Eu não te vi com ele no jardim?” 27Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.

Jesus diante de Pilatos. 28Da casa de Caifás levaram Jesus para o palácio do governador. Era de manhã. Os judeus não entraram no palácio para não se contaminarem e, assim, poderem comer a Ceia da Páscoa. 29Pilatos saiu para fora e lhes perguntou: “Que acusação trazeis contra este homem?” 30Em resposta disseram: “Se este homem não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti”. 31Pilatos disse-lhes: “Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei”. Os judeus responderam: “Não nos é permitido matar ninguém”. 32E isso foi assim para cumprir-se a palavra que Jesus havia dito para indicar de que morte devia morrer. 33Pilatos tornou a entrar no palácio, chamou Jesus e lhe perguntou: “És tu o rei dos judeus?” 34Jesus respondeu: “Perguntas por ti mesmo ou foram os outros que te disseram isto de mim?” 35Pilatos disse: “Por acaso eu sou um judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes te entregaram a mim: o que fizeste?” 36Jesus respondeu: “Meu reino não é deste mundo. Se fosse deste mundo, os meus ministros teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. 37Pilatos disse-lhe então: “Logo, tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. 38Pilatos perguntou: “O que é a verdade?”

Jesus é condenado à morte. Dito isto, Pilatos saiu de novo ao encontro dos judeus e lhes disse: “Não encontro nele nenhum crime. 39Entretanto, há um costume entre vós que eu vos solte um preso por ocasião da Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?” 40Então gritaram novamente: “Não este, e sim Barrabás”. Barrabás era um assaltante.

19 1Pilatos mandou então flagelar Jesus. 2Os soldados teceram uma coroa de espinhos, que puseram em sua cabeça, e cobriram-no com um manto de púrpura. 3Aproximavam-se dele e diziam: “Salve, rei dos judeus”, e lhe davam bofetadas. 4Pilatos saiu mais uma vez e lhes disse: “Vede! Eu o estou trazendo para fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nele nenhum crime”. 5Apareceu então Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: “Eis o homem”! 6Quando o viram, os sumos sacerdotes e os guardas gritaram: “Crucifica-o, crucifica-o”! Pilatos lhes disse: “Tomai-o vós e crucificai-o, pois não encontro nele crime algum”. 7Os judeus responderam: “Nós temos uma Lei e, segundo a Lei, ele deve morrer porque se fez Filho de Deus”. 8Ao ouvir essas palavras Pilatos ficou com mais medo ainda. 9Entrou novamente no palácio e perguntou a Jesus: “Donde és tu?” Jesus não lhe deu resposta. 10Disse-lhe então Pilatos: “Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e poder para te crucificar?” 11Jesus lhe respondeu: “Não terias nenhum poder sobre mim se não te fosse dado do alto. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior”. 12Desde então Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam: “Se o soltas, não és amigo de César, porque quem se faz rei se declara contra César”. 13Quando Pilatos ouviu essas palavras, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento de pedra, em hebraico Gábata. 14Era véspera da Páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: “Aqui está o vosso rei”! 15Mas eles gritaram: “Fora com ele! Crucifica-o!” Pilatos perguntou: “Vou crucificar o vosso rei?” Os sumos sacerdotes responderam: “Nós não temos outro rei senão César”. 16Então Pilatos o entregou a eles para que fosse crucificado.

A crucifixão de Jesus. Levaram então Jesus consigo. 17Jesus saiu carregando a cruz para o lugar chamado Caveira, em hebraico Gólgota. 18Ali o crucificaram, juntamente com outros dois, um de cada lado e Jesus no meio. 19Pilatos mandou escrever um letreiro e colocá-lo no alto da cruz. Estava escrito: Jesus Nazareno, o rei dos judeus. 20Muitos judeus leram o letreiro, porque ficava perto da cidade o lugar onde Jesus foi crucificado, e o letreiro estava escrito em hebraico, grego e latim. 21Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: “Não deves escrever: ‘o rei dos judeus’, mas que ele disse: ‘eu sou o rei dos judeus’”. 22Pilatos respondeu: “O que escrevi, está escrito”. 23Depois de crucificar Jesus, os soldados tomaram as vestes dele e dividiram-nas em quatro partes, uma para cada um. Tomaram também a túnica; era uma túnica sem costura, tecida toda de alto a baixo. 24Os soldados disseram uns aos outros: “Não vamos rasgá-la, mas vamos lançar a sorte para ver de quem será”, para que se cumprisse a Escritura: Repartiram entre si minhas vestes e sobre a túnica lançaram a sorte. Foi o que os soldados fizeram. 25Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas e Maria Madalena. 26Vendo a mãe e, perto dela o discípulo a quem amava, Jesus disse para a mãe: “Mulher, aí está o teu filho”. 27Depois disse para o discípulo: “Aí está a tua mãe”. E desde aquela hora o discípulo tomou-a sob seus cuidados.

A morte de Jesus. 28Em seguida, sabendo que tudo estava consumado e para se cumprir plenamente a Escritura, Jesus disse: “Tenho sede”. 29Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados fixaram uma esponja embebida em vinagre numa vara de hissopo e lhe aproximaram da boca. 30Depois de provar o vinagre, Jesus disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

O sangue e a água. 31Os judeus pediram a Pilatos que quebrassem as pernas dos crucificados e fossem retirados. Assim o fizeram porque já era a tarde de sexta-feira e não queriam que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, por ser aquele sábado particularmente solene. 32Os soldados vieram e quebraram as pernas do primeiro e do outro que tinham sido crucificados com ele. 33Quando chegaram, porém, a Jesus e viram que estava morto, não lhe quebraram as pernas, 34mas um dos soldados traspassou-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35Quem o viu deu testemunho, e o seu testemunho é digno de fé. Sabe que diz a verdade, para que também vós creiais. 36Assim aconteceu para que se cumprisse a Escritura: Não lhe quebrareis osso algum. 37E outra Escritura diz também: Olharão para aquele a quem traspassaram.

O sepultamento. 38Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, embora em segredo porque tinha medo dos judeus, pediu a Pilatos que lhe permitisse retirar o corpo de Jesus. Pilatos lhe permitiu. Então ele veio e retirou o corpo. 39Chegou também Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido encontrar-se com Jesus de noite, e trouxe uns trinta quilos de uma mistura de mirra e aloés. 40Eles tiraram o corpo de Jesus e o envolveram em faixas de linho com aromas, conforme é o costume de sepultar entre os judeus. 41No local onde Jesus tinha sido crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo onde ninguém ainda tinha sido depositado. 42Como o sepulcro estivesse próximo e ia começar o sábado dos judeus, foi ali que puseram Jesus.

20 O sepulcro vazio. 1No primeiro dia da semana, Maria Madalena veio ao sepulcro bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido removida do sepulcro. 2Então foi correndo até onde estava Simão Pedro e o outro discípulo a quem Jesus amava e disse-lhes: “Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram”. 3Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4Corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro. 5Inclinando-se, viu as faixas de linho no seu lugar, mas não entrou. 6Depois chegou Simão Pedro, entrou no sepulcro e viu as faixas de linho no seu lugar 7e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus. O sudário não estava com as faixas de linho, mas enrolado num lugar à parte. 😯 outro discípulo que chegou primeiro entrou também, viu e creu. 9De fato, eles ainda não se haviam dado conta da Escritura, segundo a qual era preciso que Jesus ressuscitasse dos mortos. 10ª seguir, os discípulos voltaram para casa.

Aparição a Maria Madalena. 11Maria ficou do lado de fora, chorando junto ao sepulcro. Enquanto chorava, inclinou-se para o sepulcro 12e viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13Eles perguntaram: “Mulher, por que choras?” Ela respondeu: “Porque levaram o Senhor e não sei onde o puseram”. 14Depois de dizer isso, ela virou-se para trás e viu Jesus que ali estava, mas não o reconheceu. 15Jesus perguntou-lhe: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Crendo que era o jardineiro, ela disse: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste e eu irei buscá-lo”. 16Respondeu Jesus: “Maria”. Ela, virou-se e disse em hebraico: “Rabuni” – que quer dizer Mestre. 17Jesus disse: “Não me retenhas porque ainda não subi ao Pai. Vai aos meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. 18Maria Madalena foi anunciar aos discípulos que tinha visto o Senhor. E contou o que Jesus tinha dito.

Aparição aos discípulos. 19Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, estando trancadas as portas do lugar onde estavam os discípulos, por medo dos judeus, Jesus chegou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. 20Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos se alegraram ao ver o Senhor. 21Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. 22Após essas palavras, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23ª quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem não perdoardes os pecados não serão perdoados”.

Jesus e Tomé. 24Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando Jesus veio. 25Os outros discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor”. Mas ele respondeu: “Se eu não vir nas mãos os sinais dos cravos, e não puser o dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não acreditarei”. 26Oito dias depois, os discípulos estavam outra vez no mesmo lugar, e Tomé com eles. Jesus entrou com as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. 27Depois disse a Tomé: “Põe aqui o dedo e olha minhas mãos, estende a mão e põe no meu lado, e não sejas incrédulo, mas homem de fé”. 28Tomé respondeu-lhe: “Meu Senhor e meu Deus”. 29Jesus lhe disse: “Porque me viste, acreditaste. Felizes os que não viram e creram”.

A finalidade do evangelho. 30Jesus ainda fez muitos outros sinais na presença dos discípulos, mas não foram escritos neste livro. 31Estes porém foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

21 Apêndice: Aparição junto ao lago. 1Depois disso, Jesus tornou a mostrar-se aos discípulos junto ao mar de Tiberíades. E apareceu assim: 2Estavam juntos Simão Pedro e Tomé chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos. 3Simão Pedro disse: “Eu vou pescar”. Os outros disseram: “Nós também vamos contigo”. Eles saíram e entraram no barco, mas naquela noite não pescaram nada. 4Chegada a manhã, Jesus estava na praia, mas os discípulos não o reconheceram. 5Jesus perguntou: “Moços, tendes alguma coisa para comer?” Eles responderam: “Não”. 6Jesus lhes disse: “Lançai a rede à direita do barco e achareis”. Lançaram pois a rede, e foi tão grande a quantidade de peixes que não podiam arrastá-la. 7O discípulo a quem Jesus amava disse então a Pedro: “É o Senhor”. Assim que Pedro ouviu que era o Senhor, vestiu a roupa – pois estava nu – e se jogou na água. 8Os outros discípulos vieram de barco – pois não estavam distantes da terra senão uns cem metros – puxando a rede com os peixes. 9Assim que desceram à terra, viram brasas acesas e um peixe sobre elas, e pão. 10Jesus lhes disse: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora”. 11Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a rede para a terra com cento e cinquenta e três grandes peixes. Apesar de serem tantos, a rede não se rompeu. 12Jesus lhes disse: “Vinde comer”. Nenhum dos discípulos se atreveu a perguntar-lhe: “Quem és tu?”, sabendo que era o Senhor. 13Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu para eles, e também o peixe. 14Esta foi a terceira vez que Jesus apareceu aos discípulos, depois de ressuscitado dos mortos.

Pedro é constituído Pastor. 15Quando acabaram de comer, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão filho de João, tu me amas mais do que estes?” Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16Jesus perguntou pela segunda vez: “Simão filho de João, tu me amas?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. 17Pela terceira vez Jesus perguntou: “Simão filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste por lhe ter perguntado três vezes ‘tu me amas?’ e respondeu: “Senhor, tu sabes tudo, sabes que eu te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas. 18Na verdade eu te digo: quando eras jovem, tu te vestias para ir aonde querias. Quando envelheceres, estenderás as mãos, e será outro que as amarrará e te levará para onde não queres”. 19Disse isso para indicar com que morte Simão haveria de glorificar a Deus. Dito isto, acrescentou: “Segue-me”.

A sorte do discípulo amado. 20Pedro voltou-se e viu atrás de si o discípulo a quem Jesus amava, aquele que na ceia tinha estado ao lado de Jesus e lhe tinha perguntado: “Senhor, quem é que te vai entregar?” 21Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, e este? Que será dele?” 22Jesus respondeu: “O que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha? Segue-me tu”. 23Por isso espalhou-se entre os irmãos o boato de que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não havia dito: “Não morrerá”, e sim: “O que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha?” 24Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu. E sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever.

Author: Cássio Abreu

Share This Post On