Evangelho segundo São Lucas

1 Prólogo. 1Muitos já tentaram compor a história do que aconteceu entre nós, 2assim como nos transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. 3Depois de acurada investigação de tudo desde o início, também a mim pareceu conveniente escrevê-la para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, 4para melhor conheceres a firmeza da doutrina em que foste instruído.

I. NARRATIVA DA INFÂNCIA

Anúncio do nascimento de João. 5No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias. Sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus e viviam irrepreensíveis em todos os mandamentos e ordens do Senhor. 7Mas não tinham filhos, pois Isabel era estéril e ambos eram de idade avançada. 8No exercício de suas funções sacerdotais diante de Deus, na ordem de sua turma, 9coube-lhe por sorte, segundo o costume entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor para oferecer o incenso. 10Toda a multidão do povo estava rezando do lado de fora enquanto se oferecia o incenso. 11Então apareceu-lhe um anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12Ao vê-lo, Zacarias se perturbou e teve medo. 13Mas o anjo lhe disse: “Não tenhas medo, Zacarias, porque foi ouvida tua oração. Isabel, tua mulher, vai te dar um filho a quem darás o nome de João. 14Ficarás alegre e muito feliz, e muitos se alegrarão com seu nascimento. 15Ele será grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem licor e desde o ventre de sua mãe estará cheio do Espírito Santo. 16Reconduzirá muitos israelitas para o Senhor, seu Deus. 17Caminhará diante dele no espírito e no poder de Elias para reconduzir os corações dos pais para os filhos e os rebeldes para a sabedoria dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo bem disposto”. 18Zacarias perguntou ao anjo: “Como terei certeza disso? Já sou velho e minha mulher é de idade muito avançada”. 19O anjo lhe respondeu: “Eu sou Gabriel, assistente diante de Deus. Fui enviado para te falar e dar esta boa-nova. 20Por não teres acreditado em minhas palavras, que se cumprirão a seu tempo, ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que tudo houver acontecido”. 21O povo esperava por Zacarias e se admirava de que demorasse tanto no Santuário. 22Quando saiu, não podia falar com eles e perceberam que tivera uma visão no Santuário. Fazia-lhes sinais, pois tinha ficado mudo. 23Completados os dias de serviço, voltou para casa. 24Alguns dias depois, Isabel, sua mulher, engravidou e por cinco meses ficou escondida, dizendo: 25“Assim o Senhor fez comigo, quando lhe agradou acabar com a humilhação que eu passava perante o povo”.

O anúncio do nascimento de Jesus. 26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. 28Entrando onde ela estava, o anjo lhe disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” 29Ao ouvir as palavras, ela se perturbou e refletia no que poderia significar a saudação. 30Mas o anjo lhe falou: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus. 32Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. 33Ele reinará na casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”. 34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?” 35Em resposta o anjo lhe disse: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; é por isso que o menino santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. 36Até Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”. 38Disse então Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça comigo segundo tua palavra!” E dela se afastou o anjo.

Maria visita Isabel. 39Naqueles dias, Maria se pôs a caminho e foi apressadamente às montanhas para uma cidade de Judá. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Aconteceu que, mal Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou em seu ventre; e Isabel, cheia do Espírito Santo, 42exclamou em voz alta: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Donde me vem a honra que a mãe do meu Senhor venha a mim? 44Pois quando soou em meus ouvidos a voz de tua saudação, a criança saltou de alegria em meu ventre. 45Feliz é aquela que teve fé no cumprimento do que lhe foi dito da parte do Senhor”.

O cântico de Maria. 46Então Maria disse: “Minha alma engrandece o Senhor 47 e rejubila meu espírito em Deus, meu Salvador, 48 porque olhou para a humildade de sua serva. Eis que de agora em diante me chamarão feliz todas as gerações, 49 porque o Poderoso fez por mim grandes coisas: O seu nome é santo. 50 Sua misericórdia passa de geração em geração para os que o temem. 51 Mostrou o poder de seu braço e dispersou os que se orgulham de seus planos. 52 Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53 Encheu de bens os famintos e os ricos despediu de mãos vazias. 54 Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55 conforme o que prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou com Isabel uns três meses e voltou para casa.

Nasce João Batista. 57Para Isabel chegou o tempo de dar à luz e ela deu à luz um filho. 58Os vizinhos e parentes ouviram dizer que o Senhor tinha mostrado sua grande misericórdia para com Isabel e foram congratular-se com ela. 59No oitavo dia, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60Mas a mãe tomou a palavra e disse: “De modo algum. O nome será João”. 61Diziam-lhe eles: “Não há ninguém entre os teus parentes que tenha esse nome!” 62Então perguntaram por acenos ao pai como queria que o menino se chamasse. 63Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: “João é o seu nome”. Todos se espantaram. 64Imediatamente a sua língua se soltou e ele começou a falar, louvando a Deus. 65O medo apoderou-se de todos os vizinhos e o fato se espalhou por todas as montanhas da Judeia. 66E todos que ouviam isso, diziam pensativos: “O que será deste menino?”, pois a mão do Senhor estava com ele.

O cântico de Zacarias. 67Zacarias, seu pai, encheu-se do Espírito Santo e profetizou, dizendo: 68 “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou seu povo, 69 e fez surgir em nosso favor um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo. 70 Foi assim que ele prometeu desde séculos pela boca de seus santos profetas 71 que nos salvaria dos inimigos e do poder de todos que nos odeiam, 72 que usaria de misericórdia com nossos pais e se lembraria de sua santa aliança. 73 O juramento que fez a Abraão, nosso pai, foi de conceder-nos 74que, sem temor e livres do poder dos inimigos, o sirvamos, 75com santidade e justiça, em sua presença, todos os dias. 76 E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás adiante do Senhor preparar-lhe os caminhos, 77 e dar ao povo o conhecimento da salvação, pelo perdão dos pecados. 78 Graças ao coração misericordioso de nosso Deus, o sol do alto nos visitará, 79 para iluminar os que estão sentados nas trevas e nas sombras da morte, e dirigir nossos passos para o caminho da paz”. 80O menino crescia e se fortalecia em espírito e morava no deserto, até o dia de se apresentar em público a Israel.

2 Nascimento do Salvador! 1Naqueles dias saiu um decreto do imperador Augusto, ordenando o recenseamento do mundo inteiro. 2Este foi o primeiro recenseamento no governo de Quirino na Síria. 3Todos iam registrar-se, cada um em sua cidade. 4Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da família e da descendência de Davi, 5para se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6Estando eles ali, completaram-se os dias para o parto, 7e ela deu à luz o seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, por não haver lugar na sala dos hóspedes. 8Naquela mesma região havia uns pastores no campo, vigiando à noite o rebanho. 9Um anjo do Senhor apresentou-se diante deles e a glória do Senhor os envolveu de luz, ficando eles muito assustados. 10O anjo lhes disse: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que é para todo o povo: 11Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é Cristo Senhor. 12Este será o sinal: encontrareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. 13Imediatamente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: 14“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados”. 15Assim que os anjos se foram para o céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos até Belém, para ver o acontecimento que o Senhor nos deu a conhecer”. 16Foram depressa e encontraram Maria, José e o menino deitado numa manjedoura. 17Vendo-o, contaram as coisas que lhes foram ditas sobre o menino. 18Todos que ouviam isto, maravilhavam-se do que lhes diziam os pastores. 19Maria conservava todas essas coisas, meditando-as em seu coração. 20Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito.

Circuncisão de Jesus. 21Completados os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, como o anjo o havia chamado, antes de ser concebido no ventre materno.

Apresentação no Templo. 22Terminados os dias da purificação deles segundo a Lei de Moisés, levaram o menino para Jerusalém a fim de apresentá-lo ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor. 24Ofereceram também em sacrifício, conforme está escrito na Lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos. 25Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Justo e piedoso, ele esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava com ele. 26Pelo Espírito Santo lhe fora revelado que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor. 27Movido pelo Espírito, veio ao Templo. E quando os pais levaram o menino Jesus ao Templo, a fim de cumprirem a respeito dele o que estava escrito na Lei, 28tomou-o em seus braços e louvou a Deus dizendo: 29 Agora, Senhor, já podes deixar teu servo ir em paz, segundo a tua palavra. 30 Porque meus olhos viram a salvação 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 a luz para iluminação das nações e para glória de teu povo, Israel”. 33O pai e a mãe do menino estavam maravilhados com o que se dizia dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está destinado a ser ocasião de queda e elevação de muitos em Israel e sinal de contradição. 35Quanto a ti, uma espada atravessará tua alma! Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”. 36Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, de idade muito avançada. Casada ainda bem jovem, viveu sete anos com o marido, quando enviuvou, 37permanecendo assim até os oitenta e quatro anos. Não se afastava do Templo, servindo a Deus dia e noite, com jejuns e orações. 38Chegando naquela mesma hora, louvava também ela a Deus e falava do menino a todos que esperavam a libertação de Jerusalém. 39Depois de cumprirem todas as coisas, segundo a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele.

Jesus aos doze anos no Templo. 41Todos os anos, na festa da Páscoa, seus pais iam a Jerusalém. 42Quando ele completou doze anos, subiram a Jerusalém segundo o costume da festa. 43Acabados os dias de festa, quando voltaram, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que os pais o percebessem. 44Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia e o procuraram entre os parentes e conhecidos. 45Não o achando, voltaram a Jerusalém à procura dele. 46Três dias depois o encontraram no Templo sentado no meio dos doutores, ouvindo e fazendo perguntas. 47Todos que o escutavam maravilhavam-se de sua inteligência e de suas respostas. 48Quando o viram, ficaram admirados e sua mãe lhe disse: “Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. 49Ele respondeu-lhes: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa do meu Pai?” 50Eles não entenderam o que lhes dizia. 51Depois desceu com eles e foi para Nazaré, e lhes era submisso. Sua mãe conservava a lembrança de tudo isso no coração. 52Jesus crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e das pessoas.

II. PREPARAÇÃO PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO

3 João Batista prepara o povo. 1No décimo quinto ano do governo de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias tetrarca de Abilene, 2sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João filho de Zacarias, no deserto. 3João percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, 4como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz de quem clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas estradas. 5Todo vale será aterrado e todo monte e colina serão aplanados, os caminhos tortuosos serão endireitados, os caminhos esburacados ficarão planos. 6E todos verão a salvação de Deus! 7João dizia, então, às multidões que vinham para serem batizadas por ele: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vem? 8Produzi, pois, frutos que mostrem a conversão e não andeis dizendo a vós mesmos: ‘Temos Abraão por pai’. Pois eu vos digo: Deus pode fazer nascer destas pedras filhos de Abraão. 9O machado já está posto sobre a raiz das árvores; toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo”. 10As multidões lhe perguntavam: “Então, o que devemos fazer?” 11Ele respondia: “Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e o mesmo faça quem tiver alimentos”. 12Vieram batizar-se também cobradores de impostos e lhe diziam: “Mestre, o que devemos fazer?” 13Ele respondeu: “Não cobreis mais do que a taxa fixada”. 14Perguntavam-lhe também os soldados: “E nós, o que devemos fazer?” E ele respondeu: “Não pratiqueis torturas nem chantagens contra ninguém e contentai-vos com vosso soldo”. 15Havia uma expectativa entre o povo, e todos se perguntavam se não era ele o Cristo. 16João disse a todos: “Eu vos batizo com água, mas vem outro mais forte do que eu, de quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17Já está com a peneira na mão para limpar o seu terreiro: ele recolherá o trigo ao celeiro, mas queimará a palha num fogo que não se apaga”. 18Fazendo muitas outras exortações, João anunciava a boa-nova ao povo. 19Mas o tetrarca Herodes, que João repreendia por causa de Herodíades, mulher de seu irmão, e por todas as maldades cometidas, 20acrescentou mais esta: mandou prender João no cárcere.

Batismo de Jesus. 21Ao ser batizado todo o povo, e quando Jesus, depois de batizado, estava orando, o céu se abriu 22e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba. E do céu ouviu-se uma voz: “Tu és o meu Filho amado, de ti eu me agrado”.

A origem humana de Jesus. 23Ao iniciar o ministério Jesus tinha uns trinta anos, filho, segundo se pensava, de José, de Heli, 24de Matat, de Levi, de Melqui, de Janai, de José, 25de Matatias, de Amós, de Naum, de Esli, de Nagai, 26de Maat, de Matatias, de Semei, de Josec, de Jodá, 27de Joanã, de Resa, de Zorobabel, de Salatiel, de Neri, 28de Melqui, de Adi, de Cosã, de Elmadã, de Er, 29de Jesus, de Eliezer, de Jorim, de Matat, de Levi, 30de Simeão, de Judá, de José, de Jonã, de Eliaquim, 31de Meleia, de Mena, de Matatá, de Natã, de Davi, 32de Jessé, de Obed, de Booz, de Salá, de Naasson, 33de Aminadab, de Admim, de Arni, de Esron, de Farés, de Judá, 34de Jacó, de Isaac, de Abraão, de Taré, de Nacor, 35de Seruc, de Ragau, de Faleg, de Éber, de Salá, 36de Cainã, de Arfaxad, de Sem, de Noé, de Lamec, 37de Matusalém, de Henoc, de Jared, de Malaleel, de Cainã, 38de Enós, de Set, de Adão, de Deus.

4 A tentação de Jesus. 1Cheio do Espírito Santo, Jesus voltou do rio Jordão e foi levado pelo Espírito para o deserto, 2onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias. Não comeu nada nestes dias e, terminado esse tempo, teve fome. 3O diabo, então, lhe disse: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. 4Jesus lhe respondeu: “Está escrito: Não é só de pão que vive o ser humano”. 5Levando-o para o alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do mundo 6e disse: “Eu te darei o poder e a glória de todos estes reinos, porque a mim foram confiados e eu dou a quem quiser. 7Se te prostrares, pois, diante de mim, tudo será teu”. 8Jesus lhe respondeu: “Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus e só a ele servirás”. 9O diabo o levou ainda para Jerusalém, colocou-o no ponto mais alto do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, joga-te daqui para baixo, 10porque está escrito: A teu respeito ordenou a seus anjos que te guardem. 11E ainda: Eles te carregarão nas mãos para não tropeçares em alguma pedra”. 12Em resposta Jesus disse: “Está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus”. 13E tendo terminado toda espécie de tentação, o diabo se afastou dele até o momento oportuno.

III. O ANO DA GRAÇA DO SENHOR NA GALILEIA

Jesus volta à Galileia. 14Com a força do Espírito, Jesus voltou para a Galileia, e sua fama correu por toda a região. 15Ensinava nas sinagogas deles e era elogiado por todos.

Em Nazaré: o programa de Jesus. 16Chegou a Nazaré onde se tinha criado. Segundo seu costume, entrou num sábado na sinagoga e se levantou para fazer a leitura. 17Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, deu com a passagem onde se lia: 18O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para pôr em liberdade os oprimidos, 19e para anunciar um ano da graça do Senhor. 20Jesus fechou o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se. Os olhos de todos os presentes na sinagoga se fixaram nele. 21Então começou a falar-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. 22Todos se puseram a falar dele e, maravilhados das palavras cheias de graça que saíam de sua boca, diziam: “Não é este o filho de José?” 23Ele lhes disse: “Certamente me direis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo; tudo quanto ouvimos que fizeste em Cafarnaum, faze-o aqui em tua terra’”. 24E continuou: “Eu vos asseguro: nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra. 25Na verdade, eu vos digo: Muitas viúvas havia em Israel nos dias de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses e houve grande fome em todo o país. 26Mas Elias não foi enviado a nenhuma delas senão a uma viúva em Sarepta de Sidônia. 27E havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado senão Naamã, o sírio”. 28Quando ouviram isso, todos os que estavam na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se, arrastaram-no para fora da cidade e o conduziram até o alto do monte onde estava construída a cidade, para dali o precipitarem. 30Mas, passando por meio deles, Jesus foi embora.

Jesus ensina em Cafarnaum. 31Desceu depois para Cafarnaum, cidade da Galileia, e ali ensinava aos sábados. 32Eles ficavam admirados de sua doutrina porque sua palavra tinha autoridade. 33Havia na sinagoga um homem possuído pelo espírito de um demônio impuro, que gritou com voz forte: 34“O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus!” 35Jesus o intimou, dizendo: “Cala-te e sai deste homem”. O demônio jogou-o no chão, no meio deles, e saiu sem lhe fazer mal. 36Todos ficaram espantados e perguntavam uns aos outros: “O que está acontecendo? Com poder e autoridade manda nos espíritos impuros e eles saem!” 37E a fama de Jesus foi se espalhando por todos os lugares da região.

Cura da sogra de Pedro. 38Saindo da sinagoga, Jesus entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com muita febre e pediram-lhe por ela. 39Inclinando-se sobre ela, deu uma ordem à febre, e a febre a deixou. Imediatamente ela se levantou e começou a servi-los.

Curas à noite. 40Quando o sol se pôs, todos que tinham enfermos com várias doenças traziam-nos a Jesus; ele impunha as mãos sobre cada um e os curava. 41De muitos saíam também demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus!” Mas ele os repreendia e não os deixava falar, porque sabiam que ele era o Cristo!

Saída de Cafarnaum. 42Ao amanhecer, Jesus saiu e retirou-se para um lugar deserto. As multidões o procuravam, vinham até ele e queriam impedir que as deixasse. 43Ele, porém, lhes disse: “É preciso que eu anuncie a boa-nova do reino de Deus também às outras cidades, porque é para isto que fui enviado”. 44E ia pregando pelas sinagogas da Judeia.

5 Os primeiros discípulos. 1E aconteceu que a multidão se comprimia em volta de Jesus para ouvir a palavra de Deus. Ele estava junto ao lago de Genesaré. 2Viu dois barcos à beira do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3Entrou, então, num dos barcos, que era de Simão, e pediu que se afastasse um pouco da terra. Sentado no barco, ensinava às multidões. 4Assim que acabou de falar, disse a Simão: “Faze-te ao largo e lançai as redes para a pesca!” 5Simão disse: “Mestre, estivemos trabalhando a noite toda e nada pescamos, mas sob tua palavra lançarei as redes”. 6Lançadas as redes, apanharam grande quantidade de peixes, tanto que as redes se rompiam. 7Fizeram sinal aos companheiros do outro barco para virem ajudá-los. Eles vieram e encheram os dois barcos, a ponto de quase irem a pique. 8À vista disso, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus e disse: “Senhor, afasta-te de mim que sou um homem pecador”. 9Pois tanto ele como os companheiros ficaram tomados de espanto com a pesca que tinham feito. 10O mesmo acontecia com Tiago e João filhos de Zebedeu, sócios de Simão. Mas Jesus disse a Simão: “Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de gente”. 11Atracando em terra os barcos, eles deixaram tudo e o seguiram.

A cura de um leproso. 12Aconteceu que Jesus estava numa das cidades, e apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus, prostrou-se de joelhos diante dele e lhe suplicava dizendo: “Senhor, se quiseres, podes limpar-me”. 13Estendendo a mão, ele o tocou e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante a lepra desapareceu. 14E Jesus recomendou-lhe: “Não digas nada a ninguém. Vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta pela tua purificação, prescrita por Moisés, como prova de tua cura para eles”. 15Não obstante, sua fama ia crescendo, e numerosas multidões acorriam para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. 16Ele, porém, se retirava para lugares desertos e se entregava à oração.

Jesus perdoa os pecados. 17Um dia Jesus estava ensinando. À sua volta estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todos os povoados da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E o poder do Senhor o levava a curar. 18Alguns homens trouxeram um paralítico num leito e procuravam fazê-lo entrar para apresentá-lo a Jesus. 19Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito, no meio das pessoas, diante de Jesus. 20Ao ver a fé deles, disse: “Homem, os teus pecados estão perdoados”. 21Os escribas e fariseus começaram a perguntar-se: “Quem é este que assim blasfema? Quem pode perdoar pecados senão só Deus?” 22Percebendo os pensamentos deles, Jesus respondeu: “O que estais pensando em vossos corações? 23O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-te e anda’? 24Pois bem, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar os pecados – disse ao paralítico – eu te digo: levanta-te, pega o teu leito e vai para casa”. 25Imediatamente ele se levantou diante deles, tomou o que lhe servia de leito e foi para casa, louvando a Deus. 26Todos ficaram fora de si, louvavam a Deus e cheios de temor diziam: “Hoje vimos coisas maravilhosas!”

Jesus é amigo dos pecadores. 27Depois disso, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado junto ao balcão da coletoria e lhe disse: “Segue-me”. 28Deixando tudo, ele se levantou e o seguiu. 29Em sua casa, Levi ofereceu-lhe um grande banquete. Havia uma grande multidão de cobradores de impostos e outras pessoas que estavam à mesa com eles. 30Os fariseus e seus escribas começaram a resmungar e a dizer aos discípulos: “Por que comeis e bebeis com cobradores de impostos e pecadores?” 31Jesus respondeu-lhes: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, e sim os enfermos. 32Não vim chamar para a conversão os justos, mas os pecadores”.

Jesus, esposo da nova aliança. 33Eles lhe disseram: “Os discípulos de João jejuam com frequência e fazem orações; também os discípulos dos fariseus fazem o mesmo. Os teus, porém, comem e bebem!” 34Jesus lhes respondeu: “Quereis fazer jejuar os convidados da festa de casamento enquanto com eles está o noivo? 35Mas virão os dias em que o noivo lhes será tirado. Então, naqueles dias, jejuarão”. 36Fez ainda esta comparação: “Ninguém tira remendo de roupa nova para costurá-lo em roupa velha. Do contrário, rasgaria a roupa nova e o remendo de roupa nova não se ajustaria à roupa velha. 37Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Do contrário, o vinho novo romperá os odres e se derramará, e os odres ficarão estragados. 38Vinho novo se põe em odres novos. 39E ninguém que bebe vinho velho prefere o novo, pois diz: O velho é melhor”.

6 Jesus é o senhor do sábado. 1Num dia de sábado, Jesus estava andando por entre as plantações de trigo; os discípulos arrancavam espigas, debulhavam-nas com as mãos e comiam os grãos. 2Alguns fariseus disseram: “Por que fazeis o que não é permitido fazer no sábado?” 3Jesus respondeu-lhes: “Não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e os companheiros? 4Como entrou na casa de Deus e, tomando os pães sagrados, comeu e deu aos companheiros, quando só aos sacerdotes é permitido comê-los?” 5E lhes dizia: “O Filho do homem é senhor do sábado”. 6Num outro sábado, Jesus entrou na sinagoga e ensinava. Havia ali um homem que tinha a mão direita paralisada. 7Os escribas e fariseus o observavam, para ver se Jesus curaria em dia de sábado a fim de terem motivo de o acusar. 8Conhecendo os pensamentos deles, disse para o homem da mão paralisada: “Levanta-te e fica de pé aqui no meio”. Ele se levantou e ficou de pé. 9Jesus lhes disse: “Vou fazer-vos uma pergunta: É permitido fazer o bem ou o mal no sábado, salvar uma vida ou deixar que se perca?” 10E, passando os olhos por todos eles, disse para o homem: “Estende a mão”. Ele o fez e a mão ficou curada. 11Eles se encheram de furor e discutiam entre si o que poderiam fazer contra Jesus.

A escolha dos Doze. 12Por aqueles dias Jesus retirou-se para a montanha a fim de rezar, e passou toda a noite em oração a Deus. 13Pela manhã chamou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem deu o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João, Filipe e Bartolomeu, 15Mateus e Tomé, Tiago filho de Alfeu e Simão chamado Zelotes, 16Judas filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.

O sermão das Bem-Aventuranças. 17Descendo com eles, parou numa planície, e com ele grande número de discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Eles tinham vindo para ouvir Jesus e para serem curados de suas enfermidades. Também os atormentados de espíritos impuros eram curados. 19Toda a multidão procurava tocá-lo porque dele saía uma força que sarava a todos. 20Levantando os olhos para os discípulos, Jesus dizia: “Felizes sois vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. 21Felizes os famintos de agora, porque sereis saciados. Felizes os tristes de agora, porque haveis de rir. 22Felizes sereis quando vos odiarem, expulsarem, injuriarem e declararem maldito o vosso nome, por causa do Filho do homem. 23Alegrai-vos nesse dia e exultai, porque grande será a vossa recompensa no céu. Pois assim fizeram os antepassados deles com os profetas. 24Mas, ai de vós, ricos, porque já recebestes o consolo! 25Ai de vós, os saciados de agora, porque tereis fome! Ai de vós, os sorridentes de agora, porque gemereis e chorareis! 26Ai de vós, quando todos falarem bem de vós, porque assim fizeram seus pais com os falsos profetas.

O amor ao próximo. 27Mas eu digo a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam. 28Falai bem dos que vos maldizem e orai por quem vos calunia. 29A quem te bater numa face, oferece também a outra; e a quem tomar o teu manto, não impeças de levar também a túnica. 30Dá a todo aquele que te pedir e não reclames de quem tirar o que é teu. 31O que desejais que os outros vos façam, fazei-o também a eles. 32Se amais quem vos ama, que recompensa tereis? Porque os pecadores também amam os que os amam. 33E se fazeis o bem a quem o faz a vós, que recompensa tereis? O mesmo fazem também os pecadores. 34Se emprestais àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para deles receberem igual favor. 35Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem nada esperar em troca, e grande será a vossa recompensa. Assim sereis filhos do Altíssimo, porque ele também é bondoso para com ingratos e maus. 36Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso.

Não julgueis. 37Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. 38Dai, e vos será dado: uma medida boa, socada, sacudida, transbordante vos será colocada nos braços. Pois a medida com que medirdes será usada para medir-vos”. 39Contou-lhes também uma parábola: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no buraco? 40O discípulo não está acima do mestre; bem preparado, será como o mestre. 41Por que olhas o cisco no olho do teu irmão e não vês a trave no teu? 42Como podes dizer ao teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu não vês a trave que há no teu? Hipócrita! Retira primeiro a trave do teu olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.

Cada árvore com seu fruto. 43Não há árvore boa que dê fruto ruim, nem árvore doente que dê fruto bom; 44cada árvore se conhece pelo fruto: não se colhem figos de espinheiros nem da urtiga-de-espinho se colhem uvas. 45 A pessoa boa retira coisas boas do bom tesouro do coração, e a má retira coisas más do mau tesouro, pois a língua fala do que está cheio o coração. 46Por que me chamais: ‘Senhor, Senhor’ e não fazeis o que vos digo? 47Vou mostrar-vos a quem se assemelha todo aquele que vem a mim, ouve minhas palavras e as pratica. 48É como o homem que resolveu construir uma casa. Cavou fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. Veio a enchente, e a correnteza do rio atingiu a casa mas não a pôde abalar, porque estava bem construída. 49Aquele, porém, que as ouve e não põe em prática, é semelhante ao homem que construiu à flor da terra, sem alicerces. A correnteza do rio atingiu a casa, e ela logo desabou; e foi grande a ruína daquela casa”.

7 Misericórdia com os pagãos. 1Tendo Jesus concluído todos estes discursos ao povo que o escutava, entrou em Cafarnaum. 2Havia ali um oficial romano, que tinha um escravo muito estimado; o escravo estava muito mal, à beira da morte. 3Tendo ouvido falar de Jesus, enviou alguns chefes dos judeus para pedir-lhe que viesse salvar da morte seu escravo. 4Aproximando-se de Jesus, pediram-lhe com insistência, dizendo: “Ele merece que lhe faças o favor, 5pois ama nossa gente; ele mesmo foi quem construiu para nós a sinagoga”. 6Jesus se pôs a caminho com eles. Já estava perto da casa, quando o oficial enviou alguns amigos para lhe dizerem: “Senhor, não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa. 7Nem me julguei digno de ir a ti. Mas dize só uma palavra e meu escravo ficará curado. 8Pois eu também estou submisso à autoridade e tenho soldados a meu comando, e digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; a meu escravo: Faze isto, e ele o faz”. 9Ouvindo estas palavras, Jesus ficou admirado com ele; voltou-se para a multidão que o seguia e disse: “Eu vos digo que nem em Israel encontrei tamanha fé”. 10Ao voltar para casa, os enviados encontraram o escravo em perfeita saúde.

Misericórdia com a viúva. 11Tempos depois Jesus foi para uma cidade chamada Naim, acompanhado dos discípulos e de uma grande multidão. 12Ao aproximar-se da porta da cidade, saía o enterro de um jovem, filho único de uma viúva. Uma multidão numerosa da cidade o seguia. 13Ao vê-la, o Senhor ficou com muita pena e lhe disse: “Não chores”. 14E, aproximando-se, tocou o caixão; os que o carregavam, pararam; e Jesus disse: “Moço, eu te ordeno, levanta-te”. 15O morto sentou-se e começou a falar, e Jesus o entregou à mãe. 16O medo se apoderou de todos, e louvavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta surgiu entre nós”; e: “Deus visitou seu povo”. 17A notícia do fato correu por toda a Judeia e por toda a redondeza.

O Batista pergunta sobre Jesus. 18Os discípulos de João levaram-lhe a notícia de todas estas coisas. João chamou dois dos seus discípulos 19e os enviou ao Senhor para lhe perguntar: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” 20Os homens foram até Jesus e disseram: “João Batista nos enviou para te perguntar: És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” 21Naquele momento Jesus curou muitos de enfermidades, males e espíritos malignos, e concedeu a visão a muitos cegos. 22Em seguida lhes respondeu: “Ide comunicar a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, os pobres são evangelizados. 23Feliz é aquele que não se escandalizar de mim”.

Jesus elogia João Batista. 24Quando os mensageiros de João foram embora, ele começou a falar de João ao povo: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 25Mas, então, o que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Ora, os que se vestem com roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis. 26Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que um profeta. 27Este é de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. 28Eu vos digo: Entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João. Mas o menor no reino de Deus é maior do que ele. 29Todo o povo que o escutou, até mesmo os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o batismo de João. 30Mas os fariseus e os doutores da Lei, não se fazendo batizar por João, frustraram para si mesmos o plano de Deus. 31Com quem hei de comparar a geração de hoje? A quem se assemelham? 32São semelhantes a meninos que ficam sentados na praça, gritando uns para os outros: ‘Tocamos para vós a flauta e não dançastes, cantamos lamentações e não chorastes’. 33Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: ‘Está possuído do demônio’. 34Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Olhem! Um comilão e beberrão, amigo de cobradores de impostos e pecadores’. 35Mas a sabedoria foi reconhecida como justa por todos os que a seguem”.

A mulher que muito amou. 36Um fariseu convidou Jesus para vir comer com ele. Jesus entrou em sua casa e se pôs à mesa. 37Uma mulher que era pecadora na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso feito de alabastro cheio de perfume. 38Ela se pôs atrás de Jesus, junto aos pés, chorando. Começou a banhar-lhe os pés com as lágrimas e enxugá-los com os seus cabelos; beijava os pés e os ungia com o perfume. 39Ao ver isso, o fariseu que o tinha convidado ficou pensando: “Se este homem fosse profeta, saberia quem é e que espécie de mulher é esta que o toca: é uma pecadora”. 40Tomando a palavra, Jesus lhe disse: “Simão, tenho uma coisa para dizer-te”. E ele disse: “Fala, Mestre”. 41“Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro cinquenta. 42Como não tivessem com que pagar, perdoou os dois. Quem deles o amará mais?” 43Simão respondeu: “Suponho que seja aquele a quem perdoou mais”. Disse-lhe Jesus: “Julgaste bem”. 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e tu não me deste água para lavar os pés. Ela banhou meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. 45Tu não me saudaste com o beijo. Ela, desde que entrei, não parou de me beijar os pés. 46Tu não me ungiste a cabeça com óleo. Ela me ungiu os pés com perfume. 47Por isso, eu te digo que perdoados lhe são os muitos pecados, porque ela mostrou muito amor. Mas aquele a quem pouco se perdoa, mostra pouco amor”. 48E Jesus disse à mulher: “Os teus pecados estão perdoados”. 49Os convidados começaram a se perguntar: “Quem é este que perdoa até os pecados?” 50E Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou. Vai em paz”!

8 Mulheres convertidas seguem Jesus. 1Logo depois, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a boa-nova do reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze 2e também algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e enfermidades: Maria, chamada Madalena, de quem tinham saído sete demônios, 3Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes, Susana e muitas outras que os serviam com seus bens.

A parábola do semeador. 4Havia-se reunido uma grande multidão, pessoas que vinham a ele de várias cidades. Ele lhes falou, então, através de parábola: 5“O semeador saiu a semear a sua semente. Ao semear, uma parte caiu à beira do caminho. Foi pisoteada e as aves do céu a comeram. 6Outra caiu sobre as pedras e, depois de nascer, secou por falta de umidade. 7Outra parte caiu em meio aos espinhos; os espinhos cresceram com ela e a sufocaram. 8Outra parte caiu em terra boa e, nascendo, deu fruto cem por um”. Dizendo isso, Jesus falou com voz forte: “Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça”.

A razão das parábolas. 9Os discípulos lhe perguntaram o significado daquela parábola. 10E ele respondeu: “A vós foi dado conhecer os mistérios do reino de Deus; aos outros, só em parábolas, de maneira que, olhando, não enxerguem e, ouvindo, não compreendam.

Explicação da parábola. 11Este é o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. 12Os que estão à beira do caminho são os que ouvem, mas em seguida vem o diabo e lhes tira do coração a palavra, para que não creiam nem se salvem. 13Os que estão sobre as pedras são os que ouvem e recebem a palavra com alegria, mas não têm raízes; creem por algum tempo e no momento da tentação desistem. 14O que cai entre espinhos são aqueles que ouvem a palavra. Mas depois acabam se afogando nos cuidados, na riqueza e nos prazeres da vida, e não chegam a amadurecer. 15O que cai em terra boa são aqueles que, ouvindo com coração generoso e bom, conservam a palavra e dão fruto na perseverança.

Viver e propagar a doutrina. 16Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com uma vasilha, nem a põe debaixo da cama. Ao contrário, coloca-a num candelabro para que os que entram vejam a luz. 17Pois nada há oculto que não venha a ser descoberto, nem segredo que não chegue a se conhecer claramente. 18Vede, pois, como é que ouvis! Porque a quem tem será dado; e de quem não tem, até mesmo o que pensa ter será tirado”.

Mãe e irmãos de Jesus. 19Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos, mas não conseguiram aproximar-se por causa da multidão. 20Então alguém lhe comunicou: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e desejam ver-te”. 21Mas ele lhes disse: “Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

Onde está a fé? 22Um dia Jesus entrou com os discípulos num barco e lhes disse: “Vamos passar para a outra margem do lago!” E eles partiram. 23Enquanto navegavam, Jesus adormeceu. Desabou uma tempestade de vento sobre o lago, o barco começou a se encher de água e eles corriam perigo. 24Aproximaram-se de Jesus e o acordaram, dizendo: “Mestre, Mestre, vamos morrer!” Ele acordou, repreendeu o vento e o furor das águas, que serenaram, e tudo voltou à calma. 25Perguntou-lhes então: “Onde está a vossa fé?” Eles, cheios de medo, diziam uns aos outros: “Quem é este que dá uma ordem aos ventos e à água, e eles obedecem?”

Conta o que Deus te fez! 26Navegaram para a região dos gerasenos, que está em frente à Galileia. 27Ao desembarcar, veio-lhe ao encontro um homem da cidade, possesso de demônios. Há muito tempo não se vestia nem morava numa casa, e sim nos túmulos. 28Ao ver Jesus, gritou, prostrando-se diante dele, e disse em voz alta: “O que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes”. 29Porque Jesus havia ordenado ao espírito impuro que saísse do homem, pois muitas vezes se apossava dele. Metiam-lhe, então, algemas e prendiam-lhe os pés, mas ele quebrava as correntes e era impelido pelo demônio para lugares desertos. 30Jesus lhe perguntou: “Qual é o teu nome?” – “Legião”, respondeu ele, porque haviam entrado nele muitos demônios. 31Eles imploravam a Jesus que não os fizesse voltar para o abismo. 32Havia ali numerosa vara de porcos pastando no monte. Os demônios suplicaram-lhe que lhes permitisse entrar nos porcos. E Jesus permitiu. 33Saindo do homem, os demônios entraram nos porcos e a vara precipitou-se barranco abaixo, dentro do lago, e se afogou. 34Vendo o que tinha sucedido, os pastores fugiram e contaram o fato na cidade e nos campos. 35O povo saiu para ver o que tinha acontecido. Vieram ter com Jesus e encontraram o homem de quem haviam saído os demônios sentado aos pés de Jesus, vestido e em pleno juízo. Tomados de espanto, 36ouviram das testemunhas como o endemoninhado fora curado. 37E toda a gente do território dos gerasenos pediu a Jesus que se retirasse dali, porque ficaram dominados por grande medo. Então Jesus subiu ao barco e voltou. 38O homem, de quem haviam saído os demônios, suplicava-lhe para ficar com ele. Mas Jesus o despediu, dizendo: 39“Volta para tua casa e conta o que Deus fez por ti”. Ele foi embora, proclamando por toda a cidade quanto Jesus lhe tinha feito.

Filha, tua fé te salvou! 40Quando Jesus voltou, foi recebido pela multidão, pois todos o estavam esperando. 41Um homem chamado Jairo, chefe da sinagoga, veio-lhe ao encontro. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe pedia que fosse à sua casa. 42Ele tinha uma única filha, de uns doze anos, que estava para morrer. Jesus se dirigiu para lá, sufocado pelas multidões. 43Uma mulher, que há uns doze anos sofria de uma hemorragia e gastara com médicos tudo o que possuía, sem conseguir ser curada por ninguém, 44achegou-se por trás e lhe tocou a borda do manto. No mesmo instante a hemorragia cessou. 45Jesus disse: “Quem foi que me tocou?” Como todos negassem, Pedro disse: “Mestre, a multidão te cerca e te aperta”. 46Jesus, porém, disse: “Alguém me tocou! Senti que saiu de mim uma força”. 47Vendo que tinha sido descoberta, a mulher aproximou-se trêmula; prostrada diante de Jesus, ela contou na presença de todo o povo o motivo por que o tinha tocado e como logo tinha ficado curada. 48Jesus lhe disse: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz”!

Não temas, crê tão somente. 49Jesus ainda estava falando, quando alguém da casa do chefe da sinagoga chegou, dizendo: “Tua filha morreu. Deixa de incomodar o Mestre”. 50Mas ouvindo isso, Jesus disse: “Não tenhas medo, basta crer e ela ficará curada”. 51Chegando à casa, não deixou ninguém entrar com ele, a não ser Pedro, João e Tiago, bem como o pai e a mãe da menina. 52Todos choravam e a lamentavam. Jesus disse: “Não choreis! Ela não está morta! Está dormindo”. 53Eles riram-se de Jesus, pois sabiam que estava morta. 54Mas ele, tomando-a pela mão, disse em voz alta: “Menina, levanta-te”. 55Ela voltou a respirar, e imediatamente se levantou. Jesus mandou que lhe dessem de comer. 56Os pais ficaram fora de si, mas Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinha acontecido.

9 Missão dos apóstolos. 1Tendo convocado os Doze, Jesus deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar enfermidades. 2E enviou-os para proclamar o reino de Deus e curar os enfermos. 3Disse-lhes: “Não leveis coisa alguma pelo caminho, nem bastão, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem mesmo uma muda de roupa a mais. 4Em qualquer casa onde entrardes, permanecei nela e daí é que seguireis viagem. 5Se não vos receberem, saí daquela cidade e sacudi a poeira dos pés em testemunho contra eles”. 6Partiram pois e percorreram os povoados, anunciando a boa-nova e curando por toda parte.

Preocupação de Herodes. 7O tetrarca Herodes soube de tudo o que tinha acontecido e estava perplexo, porque alguns diziam: “É João que ressuscitou dos mortos”; 8outros diziam: “É Elias que apareceu”; e outros ainda: “Ressuscitou algum dos antigos profetas”. 9Herodes dizia: “João eu o degolei. Quem poderá ser este de quem ouço tais coisas?” E desejava vê-lo. 10Ao regressarem, os apóstolos lhe contaram tudo que tinham feito. Jesus os levou consigo e retirou-se para um lugar afastado, perto de uma cidade chamada Betsaida.

Jesus alimenta cinco mil pessoas. 11Mas a multidão ficou sabendo e o seguiu. Jesus os recebeu, falava-lhes do reino de Deus e curava todos os necessitados de cura. 12A tarde já estava caindo e os Doze se aproximaram e lhe disseram: “Despede a multidão para eles irem aos povoados e sítios da redondeza procurar hospedagem e alimento, porque aqui estamos num lugar deserto”. 13Mas Jesus lhes disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles, porém, disseram: “Não temos mais do que cinco pães e dois peixes. A não ser que vamos comprar alimentos para todo este povo!” 14Pois eram uns cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: “Fazei-os sentar em grupos de cinquenta”. 15Assim o fizeram, e todos se assentaram. 16Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos para o céu, rezou sobre eles a bênção, partiu-os e deu aos discípulos para que os servissem à multidão. 17Todos comeram e ficaram saciados, e das sobras e pedaços foram recolhidos doze cestos.

Pedro professa a fé. 18Estando Jesus a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: “Quem as multidões dizem que eu sou?” 19Responderam-lhe: “Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, que ressuscitou algum dos antigos profetas”. 20Perguntou-lhes então: “E vós, quem dizeis que eu sou?” – “O Cristo de Deus”, respondeu Pedro.

Primeiro anúncio da paixão. 21Mas Jesus proibiu-lhes severamente falar disso a quem quer que fosse. E acrescentou: 22“O Filho do homem deve sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e escribas, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”.

O seguimento de Cristo. 23E disse a todos: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e me siga. 24Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará. 25O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou sofrer prejuízo? 26Porque se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do homem quando vier na sua glória, na glória do Pai e dos santos anjos. 27Eu vos asseguro: Alguns dos que aqui se encontram não morrerão antes de verem o reino de Deus”.

Transfiguração de Jesus. 28Cerca de oito dias depois desses discursos, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte para orar. 29Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência, suas vestes ficaram brancas e resplandecentes. 30Nisso, dois homens conversavam com ele; eram Moisés e Elias. 31Apareciam envoltos em glória e lhe falavam da sua morte, que teria lugar em Jerusalém. 32Pedro e os companheiros estavam com muito sono e, ao despertarem, viram sua glória e os dois homens que estavam com ele. 33Quando eles estavam se afastando de Jesus, Pedro disse: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos levantar três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”, sem saber o que dizia. 34Enquanto falava isso, apareceu uma nuvem que os envolveu. Ficaram com medo ao entrarem na nuvem. 35E da nuvem uma voz se fez ouvir, que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito, escutai-o”. 36Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Eles guardaram segredo e naqueles dias não disseram a ninguém coisa alguma do que tinham visto.

O epiléptico endemoninhado. 37No dia seguinte, ao descerem do monte, veio ao encontro de Jesus uma grande multidão. 38Aí um homem começou a gritar do meio da multidão: “Mestre, eu te peço, vem ver meu filho. É o único que tenho! 39Um espírito se apodera dele e, de repente, ele solta gritos, agita-o, fazendo-o espumar, e só o larga depois de o deixar todo machucado. 40Pedi a teus discípulos que o expulsassem mas eles não foram capazes”. 41Jesus respondeu: “Ó gente incrédula e perversa! Até quando deverei ficar convosco e vos suportar? Traze-me aqui teu filho”. 42Enquanto vinha chegando, o demônio jogou o menino por terra, agitando-o violentamente. Jesus esconjurou o espírito imundo, curou o menino e o entregou ao pai. 43Todos ficaram pasmados diante da grandeza de Deus.

Segundo anúncio da paixão. Como todos se admirassem de tudo que fazia, Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai bem atenção ao que vou dizer: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens!” 45Mas eles não compreendiam estas palavras. Para eles era uma linguagem obscura de modo que não a entendiam, e tinham medo de perguntar-lhe sobre isso.

Quem é o maior. 46Surgiu entre eles a ideia: quem deles seria o maior. 47Conhecendo o que eles pensavam, Jesus tomou uma criança, colocou-a junto de si 48e lhes disse: “Quem receber esta criança em meu nome, é a mim que recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. O menor de todos vós, esse é o maior”. 49Tomando a palavra, João disse: “Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome e o proibimos, porque não nos segue”. 50Mas Jesus lhe disse: “Não o proibais, pois quem não está contra vós está a vosso favor”.

IV. VIAGEM A JERUSALÉM: DOUTRINA PARA DISCÍPULOS E POVO

Má acolhida em Samaria. 51Como estavam para se completar os dias em que seria arrebatado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 52e enviou mensageiros na frente. Eles foram e entraram num povoado de samaritanos para lhe preparar pousada. 53Mas os samaritanos não o quiseram receber, porque era evidente que ia a Jerusalém. 54Ao ver isso, Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles?” 55Jesus, porém, voltou-se e os repreendeu. 56E se dirigiram para outro povoado.

Seguir Jesus no despojamento. 57Seguindo caminho, veio alguém que lhe disse: “Eu te seguirei aonde quer que fores”. 58Jesus lhe disse: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. 59A outro ele disse: “Segue-me”, mas ele respondeu: “Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai”. 60Jesus, porém, lhe respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus”. 61Outro lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me antes despedir-me de minha família”. 62Jesus lhe respondeu: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás serve para o reino de Deus”.

10 Missão dos setenta e dois. 1Depois disso, designou Jesus outros setenta e dois e os enviou dois a dois na frente a toda cidade e lugar aonde havia de chegar. 2E lhes disse: “A colheita é grande mas os trabalhadores são poucos; pedi, pois, ao dono da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita. 3Ide, eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias e a ninguém saudeis pelo caminho. 5Em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa’. 6Se houver ali uma pessoa de paz, repousará sobre ela vossa paz; se não houver, voltará para vós. 7Permanecei nessa casa, comei e bebei do que vos servirem. O operário merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Quando entrardes numa cidade e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘O reino de Deus está próximo de vós’. 10Quando entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas praças e dizei: 11‘Até a poeira de vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos contra vós; mas sabei que está próximo o reino de Deus’. 12Eu vos digo: Naquele dia Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade. 13Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Pois se em Tiro e Sidônia houvessem sido feitos os milagres que foram feitos no meio de vós, há muito tempo estariam vestidas de luto e sentadas na cinza, em sinal de conversão. 14Sem dúvida, no dia do juízo, Tiro e Sidônia serão tratadas com menos rigor do que vós. 15E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não, até ao inferno serás precipitada! 16Quem vos ouve a mim ouve, e quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita também rejeita aquele que me enviou”. 17Voltaram os setenta e dois cheios de alegria, dizendo: “Senhor, até os demônios se submetem a nós em teu nome”. 18E Jesus lhes disse: “Vi satanás cair do céu como um raio. 19Dei-vos poder para pisar em serpentes e escorpiões e em toda a força do inimigo, e nada vos fará mal. 20Mas não vos alegreis que os espíritos se vos submetem. Alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão escritos nos céus”.

Jesus louva o Pai. 21Naquela mesma hora Jesus sentiu-se inundado de alegria no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23Voltando-se para os discípulos, Jesus lhes disse em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes. 24Pois eu vos digo: Muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não viram, e ouvir o que ouvis e não ouviram”.

O mandamento principal. 25Levantou-se um doutor da Lei e, para o testar, perguntou: “Mestre, o que devo fazer para alcançar a vida eterna?” 26Jesus lhe respondeu: “O que está escrito na Lei? Como é que tu lês?” 27Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a mente, e o próximo como a ti mesmo”. 28Jesus, então, lhe disse: “Respondeste bem. Faze isso e viverás”. 29Mas, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?”

Parábola do bom samaritano. 30Jesus respondeu: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó. Pelo caminho, caiu nas mãos de assaltantes. Estes, depois de lhe tirarem tudo e de o espancarem, foram embora, deixando-o quase morto. 31Por acaso, desceu pelo mesmo caminho um sacerdote. Vendo-o, desviou-se dele. 32Do mesmo modo um levita, passando por aquele lugar, também o viu e passou adiante. 33Mas um samaritano, que estava de viagem, chegou até ele. Quando o viu, ficou com pena dele. 34Aproximou-se, tratou das feridas, derramando nelas azeite e vinho. Depois colocou-o em cima da própria montaria, conduziu-o à pensão e cuidou dele. 35Pela manhã, tirando duas moedas de prata, deu-as ao dono da pensão e disse-lhe: ‘Cuida dele e o que gastares a mais, na volta te pagarei’. 36Na tua opinião, quem destes três se tornou o próximo daquele que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37Ele respondeu: “Aquele que teve pena dele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu o mesmo!”

Marta e Maria. 38Pondo-se eles a caminho, Jesus entrou num povoado. Uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. 39Ela tinha uma irmã chamada Maria que, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. 40Marta, porém, andava atarefada com o muito serviço. Parou e disse: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha no serviço? Dize-lhe que me venha ajudar”. 41O Senhor lhe respondeu: “Marta, Marta, andas muito agitada e te preocupas com muitas coisas. 42Entretanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”.

11 Jesus ensina a rezar. 1Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar como João ensinou a seus discípulos”. 2Ele lhes disse: “Quando rezardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino. 3Dá-nos cada dia o pão necessário; 4perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos que nos ofenderam, e não nos deixes cair em tentação”.

Pedir com perseverança. 5Jesus acrescentou: “Se algum de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6pois um amigo meu chegou de viagem e não tenho nada para oferecer’, 7e ele responder lá de dentro: ‘Não me incomodes, a porta já está fechada e eu e meus filhos já estamos deitados; não posso me levantar para te dar os pães’. 8Eu vos digo: Se ele não se levantar e não lhe der os pães por ser seu amigo, ao menos se levantará por causa do incômodo e lhe dará quantos necessitar.

Pedir com confiança. 9Digo-vos, pois: Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos abrirão. 10Pois quem pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, se abre. 11Que pai dentre vós dará uma pedra a seu filho que pede um pão? Ou lhe dará uma cobra se ele pedir um peixe? 12Ou se pedir um ovo lhe dará um escorpião? 13Se, pois, vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu saberá dar o Espírito Santo aos que pedirem!”

Jesus e Belzebu. 14Jesus expulsava um demônio que era mudo. Assim que o demônio saiu, o mudo falou. As multidões ficaram admiradas, 15mas alguns disseram: “Ele expulsa os demônios pelo poder de Belzebu, o chefe dos demônios”. 16E outros, para o testar, pediam-lhe um sinal do céu. 17Conhecendo os seus pensamentos, Jesus disse: “Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruína, e as casas caem umas sobre as outras. 18Se, pois, satanás está dividido contra si mesmo, como se manterá o seu reino? Vós dizeis que expulso os demônios por Belzebu. 19Se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. 20Mas, se é pelo dedo de Deus que expulso os demônios, então o reino de Deus chegou até vós. 21Quando um homem forte e bem armado guarda o seu palácio, os bens estão seguros. 22Mas se chega um mais forte do que ele e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e divide os bens que tomou. 23Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha. 24Quando um espírito impuro sai de uma pessoa, anda por lugares áridos, em busca de repouso. Não o achando, diz: ‘Voltarei para minha casa, de onde saí’. 25Quando chega, encontra a casa varrida e arrumada. 26Vai então e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele. Eles entram e se instalam ali. E a última situação daquela pessoa se torna pior do que a primeira”.

A verdadeira felicidade. 27Enquanto assim falava, uma mulher levantou a voz do meio da multidão e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram!” 28Mas Jesus respondeu: “Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.

O sinal de Jonas. 29Aumentando a multidão, Jesus começou a falar: “Esta gente é má. Pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas. 30Pois assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do homem para esta geração. 31No dia do juízo, a Rainha do Sul se levantará contra os homens desta geração e os condenará. Porque ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está alguém maior do que Salomão. 32Os ninivitas se levantarão no juízo contra esta geração e a condenarão, porque eles se converteram com a pregação de Jonas, e aqui está alguém maior do que Jonas.

Ser luz para os outros. 33Ninguém acende uma lâmpada e a põe num canto escondido, nem debaixo de uma vasilha, mas sobre um candelabro, para que os que entram vejam a luz. 34O teu olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho for sadio, todo o corpo ficará iluminado; se for doente, também o corpo estará no escuro. 35Cuida, pois, que a luz que está em ti não seja escuridão. 36Porque, se todo o corpo estiver iluminado e não houver parte escura, todo ele brilhará como uma lâmpada, quando te ilumina de vivo esplendor”.

Hipocrisia dos escribas e dos fariseus. 37Enquanto falava, um fariseu o convidou para jantar em sua companhia. Jesus entrou e se pôs à mesa. 38O fariseu se admirou ao ver que ele não tinha se lavado antes de comer. 39O Senhor lhe disse: “Vós, fariseus, limpais a taça e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubo e maldade! 40Insensatos! Por acaso quem fez o exterior também não fez o interior? 41Dai antes de esmola as coisas de dentro, e tudo será limpo para vós. 42Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da menta e da arruda e de todo legume, mas negligenciais a justiça e o amor de Deus! É isso que é necessário, sem omitir aquilo. 43Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas! 44Ai de vós que sois como sepulturas camufladas, sobre as quais a gente pisa sem o saber!” 45Tomando a palavra, um doutor da Lei lhe disse: “Mestre, falando assim, ofendes também a nós”. 46E Jesus disse: “Ai de vós também, doutores da Lei, que lançais pesadas cargas sobre os outros enquanto vós mesmos nem com um dedo as tocais! 47Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas que, aliás, vossos pais mataram! 48Vós mesmos servis assim de testemunhas e aprovais a obra de vossos pais, porque em verdade eles os mataram, mas sois vós que edificais. 49Por isso a Sabedoria de Deus disse: ‘Vou enviar-lhes profetas e apóstolos; matarão alguns e perseguirão a outros’. 50É para que desta geração sejam pedidas contas do sangue de todos os profetas, derramado desde o princípio do mundo, 51a começar do sangue de Abel até o sangue de Zacarias, assassinado entre o altar e o santuário; sim, eu vos asseguro que serão pedidas contas desta geração. 52Ai de vós, doutores da Lei, que vos apoderastes da chave da ciência: vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que desejavam entrar”. 53Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo muito e acossá-lo com muitas perguntas. 54Armavam-lhe ciladas e procuravam surpreendê-lo em alguma palavra de sua boca.

12 Coragem nas perseguições. 1Enquanto isso, a multidão se foi ajuntando aos milhares, a ponto de uns pisarem os outros. Jesus começou a falar para os discípulos: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Não há nada encoberto que não venha a ser revelado, nem escondido que não venha a ser conhecido. 3Por isso, tudo que dizeis na escuridão, será ouvido à luz do dia; e o que falais ao pé do ouvido nos quartos, será proclamado de cima dos telhados. 4A vós, meus amigos, vos digo: Não tenhais medo dos que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. 5Mostrarei de quem deveis ter medo: deveis ter medo daquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno. Sim, eu vos digo, desse deveis ter medo. 6Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas de cobre? E nenhum deles é esquecido por Deus. 7Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Valeis mais do que muitos pardais. 8Eu vos digo: Quem der testemunho de mim diante dos outros, também o Filho do homem dará testemunho dele diante dos anjos de Deus. 9Quem me negar diante dos outros será negado diante dos anjos de Deus. 10Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado. 11Quando vos levarem diante das sinagogas, dos magistrados e das autoridades, não vos preocupeis com o como ou com o que haveis de responder ou com o que haveis de dizer; 12porque nessa hora o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer”.

Confiar em Deus, não na riqueza. 13Disse-lhe então alguém da multidão: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança”. 14Jesus lhe respondeu: “Moço, quem me colocou como juiz ou partidor entre vós?” 15E lhes disse: “Cuidado com qualquer tipo de cobiça, porque mesmo que se tenha muito, a vida não está no que se possui”. 16Contou-lhes então uma parábola: “Havia um homem rico, cujas terras lhe deram grande colheita. 17Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar a colheita!’ 18Disse então: ‘Já sei o que vou fazer; vou derrubar os celeiros e construir maiores, para ali guardar todo o trigo e os meus bens. 19Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tens muitos bens armazenados para muitos anos. Descansa, come, bebe, festeja’. 20Deus, porém, lhe disse: ‘Insensato! Ainda nesta mesma noite tirarão a tua vida, e para quem ficará tudo que acumulaste?’ 21É o que acontece com quem ajunta tesouros para si e não é rico diante de Deus”.

Não se preocupar. 22Em seguida, Jesus disse aos discípulos: “Por isso vos digo: Não vos preocupeis com a vida, com o que comereis, nem com o corpo, com o que vestireis. 23Porque a vida é mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes. 24Olhai os pássaros: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, mas Deus os alimenta. E vós valeis muito mais do que os pássaros! 25Quem de vós, com suas preocupações, pode aumentar a duração de sua vida de um momento sequer? 26Se, pois, não podeis fazer o menos, por que vos inquietais com o mais? 27Olhai como crescem os lírios: não fiam nem tecem. Mas eu vos digo que nem Salomão com toda a sua glória se vestiu como um deles. 28Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, gente de pouca fé! 29Não vos inquieteis, procurando o que haveis de comer ou beber, 30porque são os pagãos do mundo que se preocupam com tudo isso. Vosso Pai sabe que tendes necessidade disso. 31Buscai antes o seu Reino e recebereis estas coisas de acréscimo. 32Não tenhais medo, pequeno rebanho, porque o Pai achou por bem dar-vos o Reino. 33Vendei vossos bens e dai de esmola; fazei-vos bolsas que não se gastem, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça corrói; 34porque onde estiver vosso tesouro, aí estará também vosso coração.

Vigilância e dedicação ao Senhor. 35Tende as cinturas cingidas e vossas lâmpadas acesas. 36Sede como quem espera o seu senhor de volta das festas de casamento, para lhe abrir a porta quando ele chegar e bater. 37Felizes os escravos que o senhor achar vigiando. Eu vos asseguro: Ele cingirá o avental, fará com que se ponham à mesa e os servirá. 38Se chegar à meia-noite ou às três da madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles! Vós bem sabeis que, se o pai de família soubesse a hora em que viria o ladrão, não deixaria arrombar-lhe a casa. 40Estai, pois, preparados, porque na hora em que menos pensais virá o Filho do homem”. 41Pedro lhe perguntou: “Senhor, é para nós que contas esta parábola ou para todos?” 42O Senhor respondeu: “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor porá à frente dos de sua casa para lhes distribuir a porção de trigo no momento oportuno? 43Feliz o escravo que, ao voltar, o senhor o encontrar agindo desta forma. 44Eu vos asseguro: Confiará a ele a administração de todos os seus bens. 45Mas se o escravo disser consigo: ‘Meu senhor está demorando’, e começar a espancar os escravos e as escravas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46virá o senhor desse escravo no dia em que menos esperar e numa hora imprevista; ele o afastará do cargo, destinando-lhe a sorte dos infiéis. 47O escravo que conhecia a vontade do senhor, mas não se preparou nem agiu de acordo, receberá muitas chicotadas. 48Aquele, porém, que desconhecia a vontade do senhor e fez coisas dignas de castigo, receberá poucas chicotadas. A quem muito se deu, dele muito se exigirá; e a quem muito se entregou, muito mais se pedirá. Pró ou contra Jesus. 49Eu vim pôr fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 50Tenho de receber um batismo, e como me angustio até que se cumpra! 51Pensais que vim trazer paz à terra? Digo-vos que não, e sim a separação. 52De agora em diante, numa família de cinco pessoas, estarão divididas três contra duas e duas contra três; 53estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. Os sinais dos tempos. 54Jesus dizia ainda às multidões: “Quando vedes uma nuvem levantar-se no poente, logo dizeis que vai chover. E assim acontece. 55Quando sentis soprar o vento sul, dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. 56Hipócritas! Sabeis interpretar os fenômenos da terra e do céu; então como não sabeis interpretar o momento presente? 57Por que não julgais vós mesmos o que é justo? 58Quando, pois, fores ao magistrado com o teu adversário, procura entrar em acordo com ele pelo caminho, para não suceder que ele te arraste ao juiz, e o juiz te entregue nas mãos do oficial de justiça, e este te jogue na prisão. 59Digo-te que não sairás de lá enquanto não pagares o último centavo”.

13 Arrependimento ou perdição. 1Naquele momento apareceram alguns que contaram a Jesus sobre os galileus que Pilatos matou, misturando o seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam. 2Jesus lhes disse: “Pensais que estes galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Digo-vos que não. E se não vos converterdes, todos morrereis do mesmo modo. 4Ou aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, pensais que eram mais culpados do que todos os outros que moram em Jerusalém? 5Digo-vos que não. E se não vos converterdes, todos vós morrereis do mesmo modo”.

A figueira estéril. 6Contou-lhes ainda esta parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em seu sítio. Veio procurar figos dessa figueira, e não achou. 7Disse então ao agricultor: ‘Já faz três anos que venho procurando figos desta figueira, e não acho; corta-a! Para que ocupa ainda inutilmente a terra?’ 8Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa-a ainda por este ano, para que eu cave ao redor e ponha adubo. 9Talvez ela dê fruto; se não der, mandarás cortá-la depois’”.

O novo Reino traz liberdade. 10Num sábado, Jesus ensinava numa sinagoga. 11Havia ali uma mulher que há dezoito anos tinha um espírito que a enfraquecia. Andava encurvada e não podia se endireitar. 12Vendo-a, Jesus chamou-a e disse: “Mulher, estás curada de tua doença”. 13Impôs-lhe as mãos, e ela imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus. 14O chefe da sinagoga ficou indignado porque Jesus havia curado no sábado e disse à multidão: “Há seis dias em que se pode trabalhar. Nesses dias vinde curar-vos e não em dia de sábado”. 15O Senhor lhe respondeu: “Hipócritas! Qualquer um de vós não solta do estábulo o boi ou o burro no sábado e o leva a beber? 16E esta filha de Abraão, que há dezoito anos satanás mantinha prisioneira, não devia ser libertada dessa prisão em dia de sábado?” 17Com essa resposta, todos os adversários ficaram envergonhados, e a multidão se alegrava com as obras maravilhosas que fazia.

A mostarda e o fermento. 18E Jesus dizia: “A que se assemelha o reino de Deus, e com que vou compará-lo? 19É semelhante a um grãozinho de mostarda que alguém tomou e jogou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma grande árvore, e em seus ramos os passarinhos vieram fazer ninhos”. 20Disse ainda: “Com que vou comparar o reino de Deus? 21É semelhante ao fermento que uma mulher pegou e misturou com três medidas de farinha, e tudo ficou fermentado”.

Entrar pela porta estreita. 22A caminho de Jerusalém, Jesus passava pelas cidades e povoados e ensinava. 23Alguém lhe perguntou: “Senhor, são poucos os que vão se salvar?” Ele lhes disse: 24“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 25Depois que o dono da casa tiver fechado a porta, começareis a bater do lado de fora, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. Mas ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos contigo e ensinaste em nossas praças’. 27E ele vos responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça’. 28Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó e todos os profetas no reino de Deus, ao passo que vós sereis lançados fora. 29E virá gente do oriente e do ocidente, do norte e do sul para sentar-se à mesa no reino de Deus. 30Há últimos que serão os primeiros e há primeiros que serão os últimos”.

Um profeta morre em Jerusalém. 31Naquela hora achegaram-se alguns fariseus e disseram-lhe: “Vai embora daqui porque Herodes quer matar-te”. 32Disse-lhes ele: “Ide dizer a essa raposa que expulso demônios e faço curas hoje e amanhã e no terceiro dia termino. 33É necessário, entretanto, que caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um profeta morra fora de Jerusalém. 34Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste! 35Por isso vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: Não me vereis mais até que venha a hora em que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!”

14 Cura e lição de humildade. 1Num sábado, Jesus entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição. E eles o observavam. 2Havia ali um homem atacado de hidropisia. 3Tomando a palavra, Jesus perguntou aos doutores da Lei e aos fariseus: “É permitido curar em dia de sábado ou não?” 4Eles ficaram calados. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e o despediu. 5E dirigindo-se a eles, disse: “Quem de vós,  e um filho ou um boi cair num poço, não o retira imediatamente em dia de sábado?” 6E eles não puderam responder-lhe. 7Jesus observou como os convidados escolhiam para si os primeiros lugares. Contou-lhes, então, uma parábola: 8“Quando fores convidado por alguém para uma festa de casamento, não te sentes no primeiro lugar. Talvez tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9e aquele que convidou os dois venha e te diga: ‘Cede teu lugar para este’. Então tu, cheio de vergonha, irás ocupar o último lugar. 10Quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar, para que, quando chegar quem te convidou, te diga: ‘Amigo, vem mais para cima’. Então terás grande honra na presença de todos os convidados. 11Porque todo aquele que se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Mentalidade interesseira. 12Disse depois para quem o tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar, não chames os amigos, nem os irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos, para não acontecer que eles, por sua vez, te convidem, e assim já tenhas a tua recompensa. 13Quando deres um jantar, chama os pobres, os aleijados, os coxos e cegos. 14Então serás feliz, pois estes não têm com que pagar. Receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.

Os convidados e os pobres. 15Ouvindo isso, um dos convidados disse-lhe: “Feliz aquele que comer pão no reino de Deus”. 16Então Jesus disse: “Um homem deu um grande banquete e convidou muita gente. 17Na hora do banquete, enviou o seu escravo para dizer aos convidados: ‘Vinde! Já está tudo preparado’. 18Todos sem exceção começaram a dar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um sítio e preciso ir vê-lo. Peço-te que me desculpes’. 9Outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois e tenho de experimentá-las. Peço que me desculpes’. 20Outro disse: ‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’. 21O escravo voltou e comunicou tudo ao seu senhor. Furioso, o dono da casa disse ao escravo: ‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade e traze aqui os pobres, aleijados, cegos e coxos’. 22O escravo lhe disse: ‘Senhor, foi feito o que mandaste e ainda há lugar’. 23O senhor falou para o escravo: ‘Sai pelos caminhos e atalhos e força as pessoas a entrar, para que minha casa fique cheia’. 24Pois eu vos digo: Nenhum daqueles homens, que tinham sido convidados, provará do meu banquete”.

Condições para ser discípulo. 25Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se para elas, disse: 26“Se alguém vem a mim e tem mais amor ao pai, à mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e mesmo à  própria vida do que a mim, não pode ser meu discípulo. 27Quem não carrega a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. 28Quem de vós, ao construir uma torre, não senta primeiro e calcula os gastos para ver se tem com que terminá-la? 29Do contrário, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos o verão e começarão a zombar, 30dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar’. 31Ou qual o rei que, saindo a campo para fazer guerra a outro rei, não senta primeiro e examina bem se com dez mil pode enfrentar o outro que contra ele vem com vinte mil? 32Do contrário, quando o outro ainda está longe, envia uma delegação para negociar a paz. 33Assim qualquer um de vós, que não renuncia a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo.

Parábola do sal. 34Bom é o sal, mas se o sal perder o gosto salgado, com o que se há de salgar? 35Não presta nem para a terra, nem para adubo. Jogam-no fora. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça”.

15 A parábola da ovelha perdida. 1Todos os publicanos e os pecadores se aproximavam de Jesus para ouvi-lo. 2Os fariseus e escribas resmungavam, dizendo: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles”. 3Então Jesus lhes contou a seguinte parábola: 4“Quem de vós, se tiver cem ovelhas e perder uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai em busca da ovelha perdida até encontrá-la? 5E quando a encontra, com alegria a põe nos ombros, 6volta para casa e chama os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: ‘Alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelha perdida’. 7Eu vos digo que também no céu haverá mais alegria por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.

Parábola da moeda perdida. 8Ou se uma mulher tiver dez moedas de prata e perder uma, não acende a luz, varre a casa e procura cuidadosamente até achá-la? 9Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrai-vos comigo, achei a moeda que tinha perdido’. 10Assim, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um pecador que se converte”.

Parábola do filho pródigo. 11E acrescentou: “Um homem tinha dois filhos. 12O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Depois de alguns dias, o filho mais jovem juntou tudo e partiu para uma terra distante. Lá dissipou os seus bens numa vida desregrada. 14Depois de gastar tudo, houve grande fome naquela terra e ele começou a passar necessidade. 15Ele foi pôr-se ao serviço de um dos cidadãos daquela terra, que o mandou para os seus campos cuidar dos porcos. 16Desejava encher o estômago com o que os porcos comiam, mas ninguém lho dava. 17Caindo em si, disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão em abundância, e eu aqui morro de fome! 18Vou partir em busca de meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra Deus e contra ti. 19Já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. 20Então se levantou e voltou para a casa do pai. Ainda longe, o pai o viu e ficou comovido. Correu-lhe ao encontro e o abraçou, cobrindo-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho’. 22Mas o pai falou para os escravos: ‘Trazei depressa e vesti nele a túnica mais preciosa, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um bezerro bem gordo e matai-o. Vamos comer e nos alegrar, 24porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, quando se aproximava da casa, ouviu a música e as danças. 26Chamando um dos criados, perguntou do que se tratava. 27O criado respondeu: ‘Teu irmão voltou, e teu pai mandou matar o bezerro gordo porque o recuperou são e salvo’. 28Ele ficou indignado e não queria entrar. Então o pai saiu e insistiu que entrasse. 29Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos eu trabalho para ti, sem nunca desobedecer uma ordem tua, e nunca me deste sequer um cabrito para festejar com os meus amigos. 30E agora que voltou este teu filho, que devorou tua fortuna com prostitutas, matas para ele o bezerro gordo’. 31O pai lhe explicou: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso fazer festa e alegrar-se, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida; tinha-se perdido e foi encontrado’”.

16 O administrador infiel. 1Jesus disse ainda aos discípulos: “Havia um homem rico que tinha um administrador. Este tinha sido acusado de dissipar-lhe os bens. 2Ele chamou o administrador e disse-lhe: ‘O que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não poderás ser meu administrador’. 3O administrador pensou: ‘O que vou fazer, pois o patrão me tira a administração? Trabalhar na terra… não tenho forças; mendigar… tenho vergonha. 4Mas já sei o que vou fazer para que, depois de afastado da administração, alguém me receba em sua casa’. 5Convocou cada um dos devedores do patrão. Perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu patrão?’ 6A resposta foi: ‘Cem barris de azeite’. Disse-lhe ele: ‘Toma a conta, senta-te imediatamente e escreve cinquenta’. 7Depois perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ A resposta foi: ‘Cem sacos de trigo’. Disse-lhe ele: ‘Toma a conta e escreve oitenta’. 😯 patrão louvou o administrador desonesto por ter agido com esperteza, pois os filhos deste mundo são mais vivos no trato com sua gente do que os filhos da luz. 9E eu vos digo: Fazei-vos amigos com as riquezas injustas, para que, no dia em que estas faltarem, eles vos recebam nas moradas eternas. 10Quem é fiel no pouco também o é no muito, e quem no pouco é infiel também o é no muito. 11Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas injustas, quem vos confiará as riquezas verdadeiras? 12E se não fostes fiéis no que é dos outros, quem vos dará o que é vosso? 13Nenhum servo pode servir a dois senhores, pois ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e abandonará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.

O reino de Deus e a Lei. 14Os fariseus, que gostavam de dinheiro, ouviram tudo isso e zombavam dele. 15Então Jesus lhes disse: “Pretendeis passar por justos diante dos outros, mas Deus conhece os vossos corações; pois o que é importante para as pessoas é abominável diante de Deus. 16A Lei e os Profetas chegaram até João. Desde então se anuncia o reino de Deus, e cada um se esforça para entrar nele. 17Porém, é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um só pontinho da Lei. 18Todo aquele que se divorciar de sua mulher e se casar com outra comete adultério. E aquele que se casar com a divorciada comete adultério.

Parábola do rico e de Lázaro. 19Havia um homem rico que se vestia com roupas de púrpura e linho finíssimo. Todos os dias dava esplêndidos banquetes. 20Um pobre, de nome Lázaro, coberto de feridas, ficava deitado junto ao portão do rico. 21Desejava tanto matar a fome com o que caía da mesa do rico. Em vez disso eram os cães que vinham lamber-lhe as feridas! 22Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão. Também o rico morreu e foi sepultado. 23E na morada dos mortos, em meio aos tormentos, levantou os olhos e viu de longe Abraão e Lázaro ao seu lado. 24Ele então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim. Manda que Lázaro molhe a ponta do dedo e venha refrescar-me a língua, porque sofro nestas chamas’. 25Respondeu Abraão: ‘Filho, lembra-te de que em vida recebeste teus bens e Lázaro seus males. Agora ele aqui é consolado e tu, atormentado. 26Ademais, entre nós e vós há um grande abismo. Os que quiserem passar daqui para aí não podem, nem tampouco daí para cá’. 27O rico disse: ‘Peço-te, então, pai, que ao menos o mandes à casa de meu pai, 28pois tenho cinco irmãos. Que Lázaro os advirta, a fim de que não venham também eles para este lugar de sofrimento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas. Que os escutem’. 30Disse ele: ‘Não é isso, pai, é que se algum dos mortos fosse até lá, eles se converteriam’. 31Ele respondeu-lhe: ‘Se não ouvem Moisés e os Profetas, tampouco acreditarão se um morto ressuscitar’”.

17 Ditos de Jesus. 1Jesus ainda disse aos discípulos: “É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai daquele que provocar escândalos! 2Melhor seria para ele que atassem uma pedra de moinho ao seu pescoço e o jogassem no mar, do que levar um destes pequeninos a pecar. 3Tende cuidado! Se o teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe. 4Se pecar contra ti sete vezes num dia e sete vezes vier procurar-te, dizendo: ‘Estou arrependido’, tu o perdoarás”. 5Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé”. 6E o Senhor respondeu: “Se tivésseis uma fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. 7Quem de vós, tendo um escravo que lavra a terra ou cuida do gado, dirá para ele, quando voltar do campo: ‘Entra logo e senta-te à mesa’? 8Pelo contrário, não lhe dirá: ‘Prepara-me o jantar, arruma-te para me servires, enquanto eu como e bebo; depois comerás e beberás tu’? 9Por acaso fica o senhor devendo algum favor ao escravo pelo fato de este ter feito o que lhe foi mandado? 10Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo que vos foi mandado, dizei: ‘Somos escravos inúteis. Fizemos apenas o que tínhamos de fazer’”.

A gratidão do samaritano. 11Indo para Jerusalém, Jesus atravessava a Samaria e a Galileia. 12Quando ia entrar num povoado, vieram-lhe ao encontro dez leprosos. Pararam ao longe 13e gritaram: “Jesus, Mestre, tem  piedade de nós”. 14Ao vê-los, Jesus lhes disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. E aconteceu que, no caminho, ficaram limpos. 15Um deles, vendo-se curado, voltou glorificando a Deus em voz alta. 16Caiu aos pés de Jesus e, com o rosto em terra, agradeceu-lhe. E este era um samaritano. 17Tomando a palavra, Jesus disse: “Não eram dez os que ficaram limpos? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

A vinda do reino de Deus. 20Interrogado pelos fariseus quando chegaria o reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: “O reino de Deus não vem ostensivamente. 21Nem se poderá dizer ‘está aqui’ ou ‘está ali’, porque o reino de Deus está no meio de vós”. 22Aos discípulos, porém, Jesus disse: “Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do homem, mas não o vereis. 23E vos dirão ‘está ali’ ou ‘está aqui’. Não deveis ir nem correr atrás. 24Pois assim como um relâmpago brilha de um extremo ao outro do céu, assim será o Filho do homem em seu dia. 25Mas antes ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração. 26Como aconteceu nos dias de Noé, assim será nos dias do Filho do homem. 27Comiam, bebiam, casavam-se e se davam em casamento até o dia em que Noé entrou na arca, veio o dilúvio e os fez morrer a todos. 28O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. 29Mas, quando Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e os fez morrer a todos. 30Assim será no dia em que o Filho do homem se revelar. 31Naquele dia, quem estiver no terraço não desça para apanhar os bens que estão dentro da casa. Também quem estiver na lavoura não volte atrás. 32Lembrai-vos da mulher de Ló. 33Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem a perder há de conservá-la. 34Eu vos digo: Naquela noite dois estarão numa mesma cama, um será levado e o outro deixado. 35Duas pessoas estarão moendo trigo juntas, uma será levada e a outra deixada”. 37Tomando eles a palavra, perguntaram a Jesus: “Onde vai ser isso, Senhor?” Ele respondeu: “Onde estiver o cadáver, ali se juntarão os abutres”.

18 A viúva e o juiz iníquo. 1Para mostrar que é necessário orar sempre, sem nunca desanimar, Jesus contou uma parábola: 2“Havia numa cidade um juiz que não temia a Deus e não respeitava ninguém. 3Havia lá também uma viúva que o procurava, dizendo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário’. 4Durante muito tempo o juiz se recusou. Por fim disse consigo mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus e não respeite ninguém, 5vou fazer-lhe justiça, porque esta viúva está me aborrecendo. Talvez assim ela pare de me incomodar’”. 6Prosseguiu o Senhor: “Ouvi o que diz este juiz perverso. 7E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que clamam por ele dia e noite, mesmo quando os fizer esperar? 8Eu vos digo que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?”

O fariseu e o publicano. 9Jesus contou também a seguinte parábola para alguns que confiavam em si mesmos, tendo-se por justos, e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu, o outro, um cobrador de impostos. 11O fariseu rezava, de pé, desta maneira: ‘Ó meu Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como este cobrador de impostos. 12Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de tudo que possuo’. 13Mas o cobrador de impostos, parado à distância, nem se atrevia a levantar os olhos para o céu. Batia no peito, dizendo: ‘Ó meu Deus, tem piedade de mim, pecador!’ 14Eu vos digo: Este voltou justificado para casa e não aquele. Porque todo aquele que se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Receber o Reino como uma criança. 15Alguns traziam a Jesus também crianças de colo, para que as acariciasse. Vendo isso, os discípulos os repreendiam. 16Mas Jesus as chamou para si, dizendo: “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, pois o reino de Deus é daqueles que são como elas. 17Eu vos asseguro: Quem não receber o reino de Deus como uma criança, jamais nele entrará”.

O jovem rico. 18Um certo homem de posição perguntou-lhe: “Bom Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna?” 19Jesus lhe respondeu: “Por que me chamas de bom? Ninguém é bom a não ser Deus. 20Conheces os mandamentos: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não darás testemunho falso, honra pai e mãe”. 21Ele disse: “Tudo isso eu tenho observado desde a juventude”. 22Ouvindo isso, Jesus lhe disse: “Ainda te falta uma coisa: vende tudo que tens, distribui o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me”. 23Quando ouviu isso, o homem ficou triste, porque era muito rico. 24Vendo-o assim triste, Jesus disse: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”. 26Os que o ouviam disseram: “Então, quem pode salvar-se?” 27Ele respondeu: “O que é impossível para os seres humanos é possível para Deus”. 28Pedro, então, disse: “Olha, nós deixamos nossos bens e te seguimos”. 29Jesus respondeu: “Eu vos asseguro: Ninguém que deixou casa, mulher ou irmãos, pais ou filhos por amor do reino de Deus, 30deixará de receber muito mais neste mundo e, no mundo futuro, a vida eterna”.

Terceiro anúncio da paixão. 31Tomando à parte os Doze, lhes disse: “Nós vamos subir a Jerusalém, e vai cumprir-se tudo o que foi escrito pelos Profetas sobre o Filho do homem. 32Ele será entregue aos pagãos, será zombado, insultado e cuspido, 33e, depois de o flagelarem, eles o matarão; e ao terceiro dia ele ressuscitará”. 34Eles, porém, não entendiam nada. Tratava-se de palavras obscuras para eles; não compreendiam o que lhes era dito.

A fé do cego de Jericó. 35Quando Jesus se aproximava de Jericó, havia um cego sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36Ouvindo a multidão que passava, perguntou o que era. 37Responderam-lhe: “É Jesus de Nazaré que passa”. 38Ele pôs-se a gritar, dizendo: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim”. 39Os que iam à frente repreendiam-no e mandavam que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais forte: “Filho de Davi, tem piedade de mim”. 40Jesus parou e ordenou que trouxessem o cego até ele. Quando o cego se aproximou, perguntou-lhe: 41“O que queres que te faça?” Ele respondeu: “Senhor, eu quero ver de novo”. 42Jesus lhe disse: “Vê! tua fé te curou”. 43Imediatamente ele começou a ver de novo e o seguia, glorificando a Deus. E o povo todo, que presenciou isso, louvava a Deus.

19 Jesus em casa de Zaqueu. 1Jesus entrou em Jericó e atravessava a cidade. 2Havia ali um homem rico, chamado Zaqueu, chefe dos cobradores do imposto. 3Procurava ver Jesus, mas não conseguia por causa da multidão, pois era muito baixo. 4Correndo na frente, subiu numa figueira brava para vê-lo, pois tinha de passar por ali. 5Ao chegar ao lugar, Jesus olhou para cima e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”. 6Ele desceu a toda pressa e o recebeu com alegria. 7Ao ver isso, todos começaram a resmungar: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador”. 8Zaqueu entretanto, de pé, disse ao Senhor: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se em alguma coisa prejudiquei alguém, vou restituir quatro vezes mais”. 9Disse-lhe Jesus: “Hoje a salvação entrou nesta casa porque também este é um filho de Abraão. 10Pois o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Cooperar com a graça da salvação. 11Tendo eles ouvido isto, Jesus acrescentou uma parábola. É que estava próximo de Jerusalém e eles pensavam que o reino de Deus logo ia manifestar-se. 12Disse ele: “Um homem nobre partiu para um país distante a fim de receber a dignidade de rei e voltar. 13Chamando dez de seus escravos, entregou a cada um mil moedas de prata e recomendou-lhes: ‘Negociai enquanto estou de viagem’. 14Os seus concidadãos, porém, o odiavam e enviaram uma comissão atrás dele, dizendo: ‘Não queremos que este homem venha a reinar sobre nós’. 15Aconteceu que, depois de receber o reino, o homem voltou e mandou chamar os escravos, a quem tinha confiado o dinheiro, para saber o que cada um havia lucrado. 16Apresentou-se o primeiro, dizendo: ‘Senhor, as mil moedas renderam dez vezes mais!’ 17Disse-lhe ele: ‘Muito bem, escravo bom, já que foste fiel no pouco, recebe o governo de dez cidades’. 18Chegou o segundo e disse: ‘Senhor, as mil moedas renderam cinco vezes mais!’ 19Disse também a este: ‘Recebe também tu o governo de cinco cidades’. 20Chegou o outro, dizendo: ‘Senhor, aqui estão as mil moedas que guardei num pano. 21É que eu tinha medo de ti, porque és um homem severo e queres exigir o que não deste e colher onde não semeaste’. 22Respondeu-lhe ele: ‘Por tuas próprias palavras eu te condeno, escravo mau. Não sabias que sou homem severo, exijo o que não dei e colho onde não semeei? 23Por que não depositaste o meu dinheiro num banco? Assim, ao regressar, eu o receberia com juros’. 24Disse então aos presentes: ‘Tirai dele as mil moedas e dai ao que tem dez mil’. 25Disseram-lhe: ‘Senhor, ele já possui dez mil moedas!’ 26O Senhor respondeu-lhes: ‘Digo-vos que a quem tem, será dado, e a quem não tem, até mesmo o que tem lhe será tirado. 27Quanto a estes meus inimigos, que não quiseram que reinasse sobre eles, trazei-os cá e degolai-os na minha presença’”. 28Depois de assim falar, Jesus seguiu adiante, subindo para Jerusalém.

V. MINISTÉRIO, MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS EM JERUSALÉM

Entrada triunfal em Jerusalém. 29Ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos 30e disse: “Ide ao povoado que está em frente. Entrando nele, achareis um jumentinho amarrado, que ainda não foi montado por ninguém. Desamarrai-o e trazei-o aqui. 31E, se alguém vos perguntar: ‘Por que o desamarrais?’ respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele’”. 32Os enviados partiram e encontraram tudo como Jesus lhes havia dito. 33Quando desamarravam o jumentinho, os donos perguntaram: “Por que desamarrais o jumentinho?” 34Eles responderam: “O Senhor precisa dele”. 35Trouxeram o jumentinho para Jesus e, jogando suas vestes em cima do animal, fizeram Jesus montar. 36Enquanto ele passava, as pessoas estendiam suas vestes pelo caminho. 37Já perto de Jerusalém, na descida do monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus num grande coro, por todos os milagres que tinham visto, 38dizendo: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu e glória nas alturas”. 39Alguns fariseus disseram-lhe, do meio da multidão: “Mestre, repreende teus discípulos”. 40Jesus respondeu: “Eu vos digo que, se eles se calarem, as pedras gritarão”.

Jesus chora sobre Jerusalém. 41Ao ver mais de perto a cidade de Jerusalém, Jesus chorou sobre ela, dizendo: 42“Se neste dia também tu conhecesses o que pode trazer a paz! Mas isto agora está oculto aos teus olhos. 43Porque dias virão sobre ti em que os inimigos te cercarão com trincheiras, te sitiarão e apertarão por todos os lados. 44Eles te arrasarão juntamente com teus habitantes, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que Deus veio para salvar-te”. Jesus purifica o Templo. 45Ao entrar no Templo, começou a expulsar os vendedores 46e disse: “Está escrito: Minha casa será casa de oração, mas vós fizestes dela um covil de ladrões”. 47Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os escribas e os chefes do povo procuravam prendê-lo, 48mas não sabiam o que fazer, porque todo o povo ficava arrebatado quando ouvia Jesus falando.

20 Origem da autoridade de Jesus. 1Aconteceu que num daqueles dias Jesus estava no Templo, ensinando e anunciando a boa-nova ao povo. Os sumos sacerdotes e os escribas com os anciãos apareceram 2e lhe perguntaram: “Dize-nos com que autoridade fazes estas coisas ou quem te deu esse direito”. 3Jesus respondeu: “Eu também vou fazer-vos uma pergunta. Dizei-me: 4O batismo de João vinha do céu ou dos homens?” 5Eles começaram a raciocinar entre si: “Se dissermos: ‘do céu’, ele dirá: ‘então por que não acreditastes nele?’ 6Se dissermos: ‘dos homens’, todo o povo nos apedrejará porque está convencido de que João era um profeta”. 7Por fim, responderam que não sabiam donde era. 8E Jesus lhes disse: “Eu também não vos digo com que autoridade faço estas coisas”.

Os lavradores homicidas. 9Jesus pôs-se a contar ao povo a seguinte parábola: “Um homem plantou uma vinha e arrendou-a a alguns lavradores. Depois partiu para uma longa viagem ao exterior. 10Na época da safra, mandou um escravo aos lavradores para que lhe dessem a sua parte dos frutos. Os lavradores, porém, o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias. 11Tornou a enviar-lhes outro escravo. A este também espancaram, insultaram e o despacharam de mãos vazias. 12Ainda lhes enviou um terceiro. A este, depois de o ferirem, lançaram fora da vinha. 13Disse então o dono da vinha: ‘O que farei? Vou mandar meu querido filho; ao menos a ele respeitarão’. 14Ao vê-lo de longe, os lavradores começaram a dizer uns aos outros: ‘Este é o herdeiro! Vamos matá-lo e a herança será nossa’. 15E lançaram-no fora da vinha e o mataram. Pois bem, o que fará com eles o dono da vinha? 16Virá e acabará com estes lavradores e arrendará a vinha a outros”. Ouvindo isso eles disseram: “Que isso não aconteça”. 17Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: “Então o que significa aquilo que está escrito: A pedra rejeitada pelos construtores é que se tornou a pedra principal? 18Quem cair sobre essa pedra ficará despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será esmagado”. 19Naquela hora os escribas e os sumos sacerdotes quiseram prendê-lo, pois perceberam que Jesus havia contado esta parábola contra eles, mas tinham medo do povo.

O tributo a César. 20Ficaram à espreita e mandaram espiões, que fingiam ser homens justos, para apanhá-lo em alguma coisa e assim entregá-lo à autoridade e ao poder do governador. 21Perguntaram-lhe: “Mestre, sabemos que falas e ensinas com retidão e, sem olhar a aparência das pessoas, mostras o caminho de Deus segundo a verdade. 22É justo pagar imposto a César ou não?” 23Vendo a falsidade deles, Jesus respondeu: 24“Mostrai-me a moeda do imposto. De quem é a imagem e inscrição?” Responderam eles: “De César”. 25Então lhes disse: “Pois dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. 26Não puderam comprometê-lo em coisa alguma na frente do povo. Ao contrário, admirados da resposta, tiveram de calar-se.

A ressurreição dos mortos. 27Alguns do partido dos saduceus, que negam a ressurreição, aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram: 28“Mestre, Moisés nos deixou escrito: Se um homem casado morrer deixando a mulher sem filhos, case-se com ela o irmão dele para dar descendência ao morto. 29Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos. 30Da mesma forma o segundo, 31o terceiro, e sucessivamente os sete casaram-se com ela e morreram sem deixar filhos. 32Por fim, morreu também a mulher. 33Na ressurreição, de quem ela será mulher, se os sete a tiveram por esposa?” 34Jesus lhes disse: “Nesta vida as pessoas casam-se e se dão em casamento. 35Os que forem considerados dignos, porém, de ter parte na outra vida e na ressurreição dos mortos, não se casam nem se dão em casamento. 36É que eles já não podem morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, uma vez que já ressuscitaram. 37Aliás, que os mortos hão de ressuscitar, o próprio Moisés dá a entender na passagem da sarça, quando diz: O Senhor Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó. 38Ele não é Deus de mortos. mas de vivos, uma vez que para ele todos vivem”. 39Tomando então da palavra alguns escribas disseram: “Mestre, falaste muito bem”. 40E já não se atreviam a fazer-lhe alguma pergunta.

O Cristo é filho e Senhor de Davi. 41Perguntou-lhes Jesus: “Como se pode dizer que o Cristo é filho de Davi? 42Pois o próprio Davi diz no livro dos Salmos: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, 43até que ponha teus inimigos como apoio de teus pés. 44Se Davi o chama de Senhor, como pode ele ser seu filho? 45Jesus disse aos discípulos na presença de todo o povo que o escutava: 46“Tende cuidado com os escribas que gostam de andar com roupas compridas, que procuram as saudações nas praças, as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. 47Devoram as casas das viúvas, a pretexto de longas orações. Eles terão sentença mais severa”.

21 A esmola da viúva. 1Levantando os olhos, Jesus viu os ricos depositando ofertas na caixa de esmolas. 2Viu também uma viúva pobre que depositava duas moedinhas, 3e comentou: “Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos. 4Pois todos eles deram, como oferta feita a Deus, do que lhes sobrava; ela porém, na sua pobreza, deu tudo que tinha para o sustento”.

Anúncio da ruína do Templo. 5Alguns falavam a respeito do Templo, que tinha sido construído com belas pedras e ornado de dádivas. Jesus, então, disse: 6“Dias virão em que de tudo isso, que estais vendo, não ficará pedra sobre pedra; tudo será destruído”. 7Eles lhe perguntaram: “Mestre, quando isso acontecerá? E qual é o sinal de que irá começar a acontecer?”

Sinais e perseguições. 8Jesus então respondeu: “Cuidado para não vos deixardes enganar, porque muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’, e ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. 9Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis. É preciso que primeiro estas coisas aconteçam, mas não virá logo o fim”. 10Então lhes disse: “Uma nação se levantará contra outra e um reino contra outro. 11Haverá grandes terremotos e em muitos lugares fome e peste, acontecerão coisas terríveis e grandes sinais no céu. 12Antes de tudo isso, porém, sereis presos e perseguidos, sereis entregues às sinagogas e às prisões, e conduzidos diante de reis e governadores, por causa do meu nome. 13Assim tereis ocasião de dar testemunho. 14Tende presente no coração de não vos preocupardes com a defesa. 15Eu é que vos darei respostas tão sábias, a que nenhum dos adversários poderá resistir nem contradizer. 16Sereis entregues até mesmo pelos pais e irmãos, por parentes e amigos, e alguns de vós serão mortos. 17Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. 19Pela vossa perseverança salvareis vossas vidas.

O fim de Jerusalém e do mundo. 20Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, compreendei que se aproxima a sua destruição. 21Então os que estiverem na Judeia fujam para os montes. Os que estiverem na cidade retirem-se. Os que estiverem no interior não voltem para a cidade. 22Porque esses serão dias de punição, para se cumprir tudo que está nas Escrituras. 23Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando  aqueles dias! Pois virá uma grande calamidade sobre o país e um grande castigo sobre este povo. 24Cairão a fio de espada e serão arrastados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisoteada pelos pagãos até que se completem os tempos das nações. 25Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a angústia tomará conta das nações, perturbadas pelo estrondo do mar e das ondas. 26As pessoas desmaiarão de medo e ansiedade pelo que virá sobre toda a terra, pois os poderes do céu serão abalados. 27Aí verão o Filho do homem vir numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando começarem a acontecer estas coisas, tomai ânimo e levantai a cabeça porque vossa libertação se aproxima”.

Atenção aos sinais. 29Contou-lhes então uma parábola: “Observai a figueira e as outras árvores. 30Notando que começam a brotar, logo sabeis que o verão está próximo. 31Assim também quando virdes acontecer estas coisas, ficai sabendo que está próximo o reino de Deus. 32Eu vos asseguro: Não passará esta geração antes que tudo isso aconteça. 33Passará o céu e a terra, minhas palavras não passarão. 34Estai atentos, para que o vosso coração não fique insensível por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e aquele dia não vos pegue de surpresa. 35Pois ele cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. 36Vigiai sempre e orai para escapardes a tudo que há de vir e ficardes de pé diante do Filho do homem”. 37Durante o dia Jesus ensinava no Templo e saía para passar a noite no monte das Oliveiras. 38E todo o povo madrugava para ir ter com ele e escutá-lo no Templo.

22 A trama para matar Jesus. 1Estava próxima a Festa dos Pães sem Fermento, que se chamava Páscoa. 2Os sumos sacerdotes e os escribas procuravam uma ocasião para matar Jesus, pois tinham medo do povo. 3Satanás havia entrado em Judas chamado Iscariotes, um dos Doze. 4Judas foi tratar com os sumos sacerdotes e com os oficiais da guarda do Templo sobre o modo de entregá-lo. 5Eles ficaram contentes e combinaram dar-lhe dinheiro. 6Judas concordou e procurava ocasião oportuna para o entregar, sem a presença do povo.

A preparação da Páscoa. 7Chegou, pois, o dia da Festa dos Pães sem Fermento, em que se devia matar o cordeiro pascal. 8Jesus enviou Pedro e João, dizendo-lhes: “Ide preparar-nos a Ceia da Páscoa”. 9Eles perguntaram-lhe: “Onde queres que a preparemos?” 10Respondeu-lhes: “Entrando na cidade, virá ao vosso encontro um homem carregando um cântaro de água. Segui-o até a casa em que entrar e 11dizei ao dono da casa: ‘O Mestre te manda perguntar: onde está a sala em que vou comer a Ceia da Páscoa com os meus discípulos?’ 12Ele vos mostrará uma grande sala mobiliada, no andar de cima. Fazei ali os preparativos”. 13Eles foram e acharam tudo como lhes dissera, e prepararam a Ceia da Páscoa.

A instituição da Ceia do Senhor. 14Ao chegar a hora, Jesus se pôs à mesa com os apóstolos 15e lhes falou: “Desejei ardentemente comer esta Ceia da Páscoa convosco antes de sofrer. 16Pois eu vos digo: Nunca mais a comerei, até que ela se realize no reino de Deus”. 17Tomando um cálice, deu graças e disse: “Tomai este cálice e distribuí entre vós. 18Pois eu vos digo: Não mais beberei deste vinho até que chegue o reino de Deus”. 19E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. 20Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramado por vós. 21Eis, porém, que a mão de quem me vai entregar está comigo à mesa. 22Pois, segundo está determinado, o Filho do homem vai morrer, mas ai daquele homem por quem ele é entregue!” 23Eles começaram a perguntar uns aos outros quem dentre eles haveria de fazer uma coisa destas.

Maior é o que serve. 24Surgiu entre eles uma discussão sobre quem deles deveria ser considerado o maior. 25Jesus disse-lhes: “Os reis das nações as dominam e os que exercem autoridade são considerados benfeitores. 26Entre vós não seja assim. Ao contrário, o maior entre vós seja como o menor, e quem manda, como quem serve. 27Pois quem é o maior, quem está sentado à mesa ou quem serve? Não é quem está sentado à mesa? Pois eu estou no meio de vós como quem serve. 28Vós sois os que permanecestes comigo nas minhas tentações. 29Eis por que eu confio a vós o Reino, assim como o Pai o confiou a mim; 30assim comereis e bebereis à minha mesa no meu Reino e vos sentareis em tronos, como juízes das doze tribos de Israel.

Palavra sobre Pedro. 31Simão, Simão, satanás vos procurou para vos peneirar como trigo. 32Mas eu orei por ti, para que tua fé não falhe; e tu, uma vez convertido, confirma os irmãos”. 33Respondeu Simão: “Senhor, estou pronto para ir contigo não só à prisão, mas até à morte”. 34Jesus lhe disse: “Pedro, eu te digo que antes que hoje o galo cante, por três vezes negarás que me conheces”.

Exortação e promessa. 35E perguntou-lhes: “Quando vos enviei sem bolsa, nem sacola, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?” – “Nada”, responderam eles. 36Jesus acrescentou: “Pois agora, quem tiver bolsa, que a pegue e também a sacola, e quem não tiver, venda o manto e compre uma espada. 37Pois eu vos digo que se deve cumprir em mim a seguinte escritura: Foi contado entre os criminosos. Pois aquilo que me diz respeito está para realizar-se”. 38Eles disseram: “Senhor, aqui estão duas espadas”. E Jesus lhes respondeu: “É o bastante”.

Oração de Jesus no Getsêmani. 39Ao sair, Jesus dirigiu-se, como de costume, para o monte das Oliveiras, e os discípulos também o seguiram. 40Ao chegar ali, disse-lhes Jesus: “Orai para não cairdes em tentação”. 41Afastou-se à distância do arremesso de uma pedra, pôs-se de joelhos e orava, 42dizendo: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua”. 43Apareceu- lhe um anjo do céu, que o confortava. 44E cheio de angústia orava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue caindo por terra. 45Levantando-se da oração, veio até os discípulos e os encontrou adormecidos pela tristeza, 46e lhes disse: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai para não cairdes em tentação”.

Jesus é traído e preso. 47Jesus ainda estava falando, quando chegou um bando, precedido por um dos Doze, chamado Judas. Ele se aproximou de Jesus para beijá-lo. 48Jesus lhe disse: “Judas, com um beijo entregas o Filho do homem?” 49Os que estavam com ele, vendo o que ia suceder, disseram-lhe: “Senhor, vamos atacá-los à espada?” 50E um deles feriu o escravo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. 51Tomando a palavra, Jesus disse: “Deixai, basta!” E, tocando-lhe a orelha, o curou. 52Jesus, então, falou aos sumos sacerdotes, aos oficiais do Templo e aos anciãos que tinham vindo contra ele: “Saístes com espadas e cacetes como se eu fosse um ladrão? 53Estive convosco todos os dias no Templo e não me prendestes, mas esta é a vossa hora e o poder das trevas”.

Negação de Pedro. 54Eles prenderam Jesus e o levaram para a casa do sumo sacerdote. Pedro o seguia de longe. 55Acenderam um fogo no meio do pátio e sentaram-se ao redor. Pedro veio sentar-se com eles. 56Uma criada, vendo-o sentado junto ao fogo, fitou os olhos nele e disse: “Este homem também estava com ele”. 57Mas Pedro negou: “Eu nem o conheço, mulher”. 58Pouco depois, outro o viu e disse: “Tu também és um deles”. Pedro respondeu: “Moço, não sou”. 59Passada quase uma hora, outro começou a insistir, dizendo: “De fato, este também estava com ele, pois é galileu”. 60Pedro, porém, disse: “Moço, não sei o que estás dizendo”. Nisso, enquanto Pedro ainda falava, o galo cantou. 61Voltando-se, o Senhor olhou para Pedro, e este se lembrou das palavras de Jesus, quando lhe disse: “Antes que hoje o galo cante, tu me terás negado três vezes”. 62E, saindo para fora, Pedro chorou amargamente.

Jesus perante o tribunal. 63Os homens que estavam guardando a Jesus zombavam dele e o maltratavam. 64Vendavam-lhe os olhos e perguntavam: “Adivinha, quem foi que te bateu?” 65E proferiam muitas outras injúrias contra ele. 66Pela manhã, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas, e o levaram ao Sinédrio, o tribunal deles. 67E diziam: “Se és o Cristo, dize-nos”. Ele respondeu-lhes: “Se eu vos disser, não me acreditareis, 68e se vos perguntar, não me respondereis. 69Mas, de agora em diante, o Filho do homem estará sentado à direita do poder de Deus”. 70Então todos disseram: “Logo, és tu o Filho de Deus?” Jesus respondeu-lhes: “Vós é que estais dizendo que eu sou”. 71Disseram eles: “Que necessidade temos de mais testemunhas? Nós mesmos ouvimos de sua boca!”

23 Jesus diante de Pilatos. 1Toda a assembleia levantou-se e levaram Jesus a Pilatos. 2Começaram a acusá-lo, dizendo: “Encontramos este homem subvertendo a nação. Proíbe pagar impostos a César e diz ser ele o Cristo-Rei”. 3Pilatos perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Tu o dizes”. 4Pilatos falou para os sumos sacerdotes e a multidão: “Eu não acho nenhum motivo para condenar este homem”. 5Eles, porém, insistiam, dizendo: “Ele subleva o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui”.

Jesus diante de Herodes. 6Ouvindo isto, Pilatos perguntou se era galileu. 7Informado de que Jesus era da jurisdição de Herodes, mandou-o para Herodes, que naqueles dias também estava em Jerusalém. 8Ao ver Jesus, Herodes ficou contente, pois há bastante tempo desejava vê-lo; tinha ouvido falar dele e esperava presenciar algum sinal feito por ele. 9Fez-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu. 10Estavam presentes os sumos sacerdotes e os escribas, que insistentemente o acusavam. 11Herodes, com os seus guardas, desprezou-o e, para zombar, mandou vestir-lhe uma roupa luxuosa e o enviou de volta a Pilatos. 12Naquele dia Herodes e Pilatos se fizeram amigos, pois antes eram inimigos.

Jesus é condenado à morte. 13Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os magistrados e o povo, 14e lhes disse: “Trouxestes este homem à minha presença como subversivo, mas, tendo-o interrogado diante de vós mesmos, não encontrei nenhuma das culpas de que o acusais. 15E Herodes também nada encontrou, pois o mandou de volta. Portanto, ele nada fez que mereça a morte. 16Por isso vou soltá-lo depois de o castigar”. 18Mas todos a uma voz começaram a gritar: “Morra este homem! Solta-nos Barrabás!” 19Barrabás tinha sido encarcerado por assassinato e devido a um motim ocorrido na cidade. 20Pilatos se dirigiu novamente a eles, querendo livrar Jesus. 21Mas eles gritavam: “Crucifica-o, crucifica-o!” 22Pela terceira vez Pilatos lhes disse: “Mas que mal fez ele? Não encontro nada nele que mereça a morte. Vou mandar castigá-lo, e depois o soltarei”. 23Mas com grande gritaria eles insistiam pedindo que fosse crucificado, e seus gritos iam crescendo. 24Pilatos decidiu atender o pedido deles. 25Soltou, conforme pediam, aquele que tinha sido preso por motim e assassinato, e entregou Jesus à vontade deles.

Apelo às mães de Jerusalém. 26Enquanto o conduziam, agarraram um certo Simão de Cirene, que vinha da lavoura, e o encarregaram de levar a cruz atrás de Jesus. 27Seguia-o grande multidão de povo e de mulheres que batiam no peito e o lamentavam. 28Voltando-se para elas, Jesus disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos. 29Pois dias virão em que se dirá: Felizes as mulheres estéreis, os ventres que não geraram filhos e os seios que não amamentaram. 30Então começarão a pedir aos montes: caí sobre nós, e às colinas: cobri-nos! 31Pois se isso fazem com a árvore verde, o que não acontecerá com a seca?” 32Levavam também outros dois criminosos para serem executados com ele.

Crucificado, Jesus perdoa. 33Quando chegaram ao lugar chamado “A Caveira”, ali crucificaram Jesus e os dois criminosos, um à direita e o outro à esquerda. 34Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Depois, repartiram as vestes de Jesus, tirando a sorte. 35O povo permanecia lá e observava. Os sumos sacerdotes zombavam de Jesus, dizendo: “Ele salvou os outros; se for o Cristo de Deus, o Eleito, salve-se a si mesmo”. 36Também os soldados aproximavam-se para oferecer-lhe vinagre e zombavam, 37dizendo: “Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo”. 38Pois havia também uma inscrição acima dele: “Este é o rei dos judeus”. 39Um dos criminosos crucificados insultava-o, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. 40O outro, porém, o repreendeu, dizendo: “Nem tu, que estás sofrendo a mesma condenação, temes a Deus? 41Nós sofremos com justiça porque recebemos o castigo merecido pelo que fizemos, mas este nada fez de mal”. 42E falou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres como Rei”. 43E Jesus lhe respondeu: “Eu te asseguro: ainda hoje estarás comigo no paraíso”.

A morte de Jesus. 44Já era quase meio-dia quando toda a região ficou coberta de escuridão até às três da tarde. 45O sol escureceu e a cortina do Santuário se rasgou ao meio. 46Clamando com voz alta, Jesus disse: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isto, expirou. 47Vendo o que acontecera, o oficial do exército romano glorificava a Deus, dizendo: “Realmente, este homem era um justo”. 48Toda a multidão que tinha vindo para assistir ao espetáculo, vendo o que acontecera, retirou-se, batendo no peito. 49Todos os conhecidos e as mulheres, que o haviam seguido desde a Galileia, estavam à distância, observando todas estas coisas.

A sepultura de Jesus. 50Havia um homem bom e correto, de nome José, que era membro nobre do Conselho. 51Ele não tinha concordado com a decisão dos outros nem com seus atos. Era de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o reino de Deus. 52Apresentou-se a Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. 53Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num túmulo cavado na rocha, onde ninguém ainda fora colocado. 54Era sexta-feira, e estava para começar o sábado. 55As mulheres, que tinham vindo com ele da Galileia, acompanharam José, viram o túmulo e como o corpo de Jesus foi nele colocado. 56Depois voltaram e prepararam perfumes e bálsamos. No dia do sábado descansaram conforme mandava a Lei.

24 A mensagem da ressurreição. 1No primeiro dia da semana, de manhã muito cedo, as mulheres vieram ao túmulo trazer os perfumes que tinham preparado. 2Encontraram a pedra do túmulo removida 3e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. 4Ficaram sem saber o que fazer. Nisso, dois homens vestidos de roupas brilhantes apareceram diante delas. 5Como ficassem aterrorizadas e baixassem os olhos para o chão, eles disseram: “Por que procurais entre os mortos quem está vivo? 6Ele não está aqui, mas ressuscitou! Lembrai-vos do que vos falou, quando estava ainda na Galileia: 7O Filho do homem deveria ser entregue ao poder de pecadores e ser crucificado, mas ressuscitaria ao terceiro dia”. 8Então elas se lembraram das palavras de Jesus. 9Voltando do túmulo, comunicaram tudo isso aos Onze e a todos os outros. 10Eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago, e as outras que com elas estavam. Contaram estas coisas aos apóstolos, 11mas suas palavras lhes pareciam tolice. Por isso não acreditaram nelas. 12Entretanto, Pedro se levantou e correu ao túmulo. Inclinando-se para olhar, só viu os lençóis e voltou para casa admirado do que tinha ocorrido.

Os discípulos de Emaús. 13Nesse mesmo dia, dois dos discípulos estavam a caminho de um povoado, chamado Emaús, distante uns doze quilômetros de Jerusalém. 14Eles conversavam sobre todos estes acontecimentos. 15Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e pôs-se a acompanhá-los. 16Seus olhos, porém, estavam como que vendados e não o reconheceram. 17Perguntou-lhes então: “Que conversa é essa que tendes entre vós pelo caminho?” Tristes eles pararam. 18Tomando a palavra um deles, de nome Cléofas, respondeu: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que ainda não sabe o que aconteceu lá nestes dias?” 19Ele perguntou: “O que foi?” Eles disseram: “A respeito de Jesus de Nazaré que tornou-se um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo. 20Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e crucificado. 21Nós esperávamos que fosse ele quem iria libertar Israel. Agora, porém, além de tudo, já passaram três dias desde que essas coisas aconteceram. 22É verdade que algumas de nossas mulheres nos assustaram. Elas tinham ido de madrugada ao túmulo 23e não encontraram o corpo. Voltaram dizendo que tinham tido uma aparição de anjos e que estes afirmaram estar ele vivo. 24Alguns dos nossos foram ao túmulo, acharam tudo como as mulheres tinham dito; mas não o viram”. 25E Jesus lhes disse: “Ó homens sem inteligência e de coração lento para crer o que os Profetas falaram. 26Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua glória?” 27E, começando por Moisés e por todos os Profetas, foi explicando tudo que a ele se referia em todas as Escrituras. 28Quando se aproximaram do povoado para onde iam, Jesus fez menção de seguir adiante. 29Mas eles o obrigaram a parar: “Fica conosco, pois é tarde e o dia já está terminando”. Ele entrou para ficar com eles. 30E aconteceu que, enquanto estava com eles à mesa, tomou o pão, rezou a bênção, partiu-o e lhes deu. 31Então, abriram-se os olhos deles e o reconheceram, mas ele desapareceu. 32Disseram então um para o outro: “Não nos ardia o coração quando pelo caminho nos falava e explicava as Escrituras?” 33Na mesma hora se levantaram e voltaram para Jerusalém. Lá encontraram reunidos os Onze e seus companheiros, 34que lhes disseram: “O Senhor ressuscitou de verdade e apareceu a Simão”. 35Eles também começaram a contar o que tinha acontecido no caminho e como o reconheceram ao partir o pão.

Aparição aos Onze. 36Enquanto falavam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. 37Assustados e cheios de medo, julgavam estar vendo um espírito. 38Mas ele lhes disse: “Por que estais perturbados e por que estas dúvidas em vossos corações? 39Vede minhas mãos e pés; sou eu mesmo! Tocai-me e vede: um espírito não tem carne nem ossos como eu tenho”. 40Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41Como ainda assim, dominados pela alegria, não acreditassem e permanecessem surpresos, perguntou-lhes: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Então lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles. 44Depois lhes disse: “Isto é o que vos dizia enquanto ainda estava convosco: é preciso que se cumpra tudo o que está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos a meu respeito”. 45Então Jesus abriu-lhes a inteligência para compreenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim estava escrito que o Cristo haveria de sofrer e ao terceiro dia ressuscitar dos mortos 47e, começando por Jerusalém, em seu nome seria pregada a todas as nações a conversão para o perdão dos pecados. 48Vós sois testemunhas disso. 49Eu vos mandarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto”.

Ascensão de Jesus. 50Levou-os em seguida até perto de Betânia. Ali, levantou as mãos e os abençoou. 51Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi levado ao céu. 52E eles, depois de se prostrarem diante dele, voltaram para Jerusalém com grande alegria. 53Permaneciam no Templo, louvando a Deus.

Author: Cássio Abreu

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